A Suprema Felicidade (2010) | |
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Direção: Arnaldo Jabor Elenco: Fernanda Avellar, César Cardadeiro, Tammy Di Calafiori, Maria Flor |
“A Suprema Felicidade” é uma espécie de “Amarcord”. Sai a Itália e entra o Brasil – mais especificamente o Rio de Janeiro. O problema é que também sai Federico Fellini. E quem entra é o Arnaldo Jabor…
O diretor não filmava havia 26 anos, e seu novo trabalho reflete o tempo longe das telas. Em “A Suprema Felicidade” parece que Jabor pegou várias das suas crônicas e tentou juntar tudo de uma vez. O resultado é um retalho mal feito de diferentes episódios que começam nos anos 40 acompanhando a vida do garoto Paulo (vivido aos 19 anos por Jayme Matarazzo): a educação católica, as brigas entre os pais, as amizades, a primeira desilusão amorosa, e por aí vai…
Claramente flertando com a memória, o filme apresenta não apenas um Rio de Janeiro idealizado, como também imagens fortemente influenciadas pela história do cinema brasileiro. Há citações às chanchadas, cinema novo e cinema marginal dos anos 70. Jabor mistura isso sem liga nenhuma, em situações muitas vezes forçadas e personagens sem nenhuma personalidade mais complexa.
Por se tratar de uma memória, pode-se muito bem tentar justificar essas falhas através da defesa de que nossas lembranças são mesmo episódicas e os personagens da nossa memória não são complexos, mas apenas figuras definidas pelas ações que exerceram no passado. E Jabor parece tentar ir por esse caminho, mas falha em sua execução.
Para começar, há no início do filme idas e vindas no tempo emulando a fragmentação da memória. Mas de repente, a narrativa se torna linear sem maiores explicações. E isso obriga a uma evolução da história organizada em início-meio-fim que não acontece. São personagens que aparecem e desaparecem sem explicação lógica dentro do próprio enredo (sendo o exemplo mais gritante o sumiço do melhor amigo de Paulo). O diretor também opta por determinados planos que, longe de serem orgânicos ao filme, aparecem como simples opções plásticas deslocadas de todo o resto.
Com alguns ótimos episódios colocados ao lado de outros constrangedores de tão ruins, “A Suprema Felicidade” se salva mesmo é pelo excelente elenco, com destaque para Marco Nanini como o avô de Paulo. Quando ele aparece, o filme levanta e ganha um pouco da magia felliniana que Jabor tanto buscou. No restante do tempo, é só uma longa produção sem ritmo e com poucos momentos inspirados. Por mais difusa que seja, a memória nunca é assim tão cansativa.