Você vai conhecer o homem dos seus sonhos


Nossa avaliação

[xrr rating=2.5/5]

Algumas coisas doem. Ver “Zorra Total”. Bater o dedão na quina da cama. Músicas da Sandy. Benzetacil. Dizer que um filme do Woody Allen é (bem) ruim. Dói. Muito. Mas… ossos do ofício. Com o ritmo que o cineasta vem mantendo nos últimos anos, fatalmente tropeços acontecerão – alguns mais feios que outros. E “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” é o pior desde “Igual a tudo na vida”.

O filme gira em torno de uma família: após ser deixada pelo marido Alfie (Hopkins) por uma mulher mais jovem, Charmaine (Punch), Helena (Jones) se torna obcecada pelo mundo esotérico e dependente de uma cartomante charlatã. Sua filha Sally (Watts) tem uma queda pelo chefe (Banderas), enquanto o marido, o escritor semifracassado Roy (Brolin), flerta com a vizinha Dia (Pinto).

No papel, um dos únicos diretores em atividade capaz de tornar essa trama de novela – “Farofa carioca” seria o título – em um filme interessante seria Allen.

Mas… não.

A inspiração shakespereana é assumida na citação a “Macbeth” logo no início (A vida é cheia de som e fúria e no fim não significa nada), porém a tentativa de transposição das farsas do bardo inglês para a Londres contemporânea não funciona. Se nas peças do dramaturgo mais usurpado da história os tipos se encaixam perfeitamente, aqui eles parecem simplesmente personagens caricaturais, marionetes manipuladas para se provar um argumento, com os quais o espectador não se importa.

(E, antes de continuar, permita-me repetir: dizer isso dói.)

Até o King Kong é um moreno alto mais decente que você!

Na verdade, são personagens demais. E genialidade woodyalleniana de menos. A locução em off para amarrar a introdução, por exemplo, é um recurso preguiçoso que, caso “Você vai…” se tratasse de um filme bom, chamaríamos de econômico. Já outros problemas não têm desculpa. Roy é um papel fraco que deveria ser o clássico neurótico de Allen, mas que simplesmente murrinha o tempo todo. E seu flerte com Dia é perturbador e inverossímil. Anthony Hopkins, por sua vez, é desperdiçado em uma história que já era clichê vinte anos atrás. Os vários contos morais parecem somados meramente para completar um longa e não para reforçar seu discurso, o que teria acontecido se tivessem sido trabalhados individualmente. O conjunto do filme nunca parece uníssono, fluido.

Dito isso, Woody Allen continua um grande diretor. Em duas cenas ao menos, ele prova isso: um retrato ácido e hilário do amor pós-Viagra; e uma discussão entre Sally, Roy e Helena em um único plano, que extrai o melhor de seus atores e transforma o espaço apertado do apartamento do casal no reflexo do ambiente sufocante e sem saída em que o casamento deles se tornou. O tema da sorte e do acaso – e do aleatório irônico da vida – se confirma como o vento constante que move esse outono de sua carreira. Mas neste universo em que as chances de acerto são 50/50, “Você vai conhecer o homem de seus sonhos” caiu do lado errado da rede.


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