Uma manhã gloriosa


Nossa avaliação

[xrr rating=2.5/5]

A primeira coisa que você precisa saber sobre “Uma manhã gloriosa” é que ele não é uma comédia romântica. Existe um romance, mas (bem) em segundo plano. O filme é uma “comédia profissional” passada em um dos ambientes mais estressantes, desagradáveis, grosseiros e complicados de se trabalhar: o telejornalismo diário.

Se eu não convivesse com esse mundo diariamente, acharia o retrato feito pelo diretor Roger Michell algo completamente fora da realidade. Mas não é. Os veteranos de egos inflados e gentileza deficiente, os picaretas que não sabem escrever e os estressados que acham que o mundo vai acabar a cada furo são aquilo ali mesmo.

Navegando entre eles, está a ambiciosa Becky Fuller (McAdams), recém-contratada como produtora-executiva de um programa matinal de segunda categoria (uma espécie de “Mais você” com esteroides) às vésperas da extrema unção. Para salvá-lo, ela contrata como novo apresentador um ícone de sua infância, o nada simpático Mike Pomeroy (Ford), e tenta aumentar o ibope trilhando o sinuoso caminho entre jornalismo e entretenimento.

Fora a discussão profissional, que vai ressoar mais (se não exclusivamente) com quem é da área, o principal problema de “Uma manhã gloriosa” é que ele demora demais em chegar no prato principal: a atuação de Pomeroy no programa, sua interação/ódio mútuo com Colleen Pack (Keaton), a outra apresentadora, e as ideias estapafúrdias de Becky. Isso só vem lá pela metade do longa e, até ali, Michell quer segurar o filme somente com o carisma de McAdams. Não que a atriz esteja mal como a típica neurótica-perfeccionista-workaholic, mas na terceira cena em que ela dispara 15 palavras em menos de três segundos,o recurso já parece batido e cansativo.

Sim, o Larry King me emprestou o figurino.

Harrison Ford flerta com o cartunesco com seu âncora amargo, ranzinza e grosseiro, que se recusa a apresentar receitas e beijar animais. Mas o roteiro desenvolve bem o personagem, já que o filme é, na verdade, sobre o relacionamento entre ele e Becky. Assim, apesar de Ford e Diane Keaton estarem (quase metalinguisticamente) ironizando o ridículo do que resta para profissionais da idade deles em Hollywood, ao menos ele se salva de cair na piada de uma nota só.

O maior mérito da roteirista Aline Brosh-McKenna é fugir do lugar-comum machista desse tipo de filme, em que a mulher descobre que sua carreira é menos importante que um homem e abre mão dela no desfecho, “em nome do amor”. Por outro lado, ela exagera no número de discussões cheias de lições de moral entre Pomeroy e Becky no ato final. Já Michell, veterano do gênero, se esforça para dar ritmo ao filme com uma música a cada 10 minutos, mas elas acabam forçadas e denunciando a montagem irregular.

No fim “Uma manhã gloriosa” é um retrato pretensamente cômico daquela velha história de “como se faz a linguiça”. Quer dizer, cômico para quem não está ali no meio todo dia. Então: divirta-se.

 


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