Capitão América: O Primeiro Vingador


Nossa avaliação

[xrr rating=4/5]

Nunca gostei do Capitão América. Mesmo antes de ficar velho o suficiente para compreendê-lo como o mais ufanista dos heróis de quadrinhos, não conseguia ver graça naquele cara certinho vestido com a bandeira dos Estados Unidos. Para uma criança como eu, era algo descontextualizado demais, sem nenhum carisma para um brasileiro se identificar.

Até chegar à saga escrita por Mark Waid, em que o bandeiroso perde seu até então inseparável escudo. De repente, aquele ícone imperialista tinha sentimentos, dúvidas, medo. Estava mais humano e, consequentemente, mais cativante. Mais do que o Capitão América, ele era Steve Rogers.

O filme dirigido por Joe Johnston acerta exatamente por focar no garoto por trás da bandeira. “Capitão América: O Primeiro Vingador” é sobre o franzino rapaz (em um efeito especial nada menos do que assombroso) que parece feito todo de coragem e bondade. Mas isso não seria suficiente para agradar ao grande público que reside fora dos Estados Unidos. Para funcionar como um herói carismático, o Capitão precisa existir dentro de um contexto muito específico.

Criado por Joe Simon e Jack Kirby em 1941 (e ressuscitado pela Marvel em 1964), o herói era mais um esforço da propaganda de guerra anti-nazista, surgindo esmurrando Hitler na capa de sua primeira revista. O filme acerta ao colocá-lo nesta época. A produção é, sim, ufanista (como não poderia deixar de ser), mas este ufanismo em um contexto de Segunda Guerra Mundial é muito mais palatável do que nos dias de hoje.

Antes...

A história segue de perto as origens dos quadrinhos, acompanhando o mirrado Steve Rogers (Evans) em suas frustradas tentativas de se alistar no exército para ir à guerra. Até que é selecionado como cobaia para o soro do supersoldado que o transformará no poderoso Capitão América. O filme tem o cuidado de mostrar o protagonista como um herói com características universais (e não exclusivamente americanas), ao mesmo tempo em que brinca com sua própria imagem como propaganda de guerra.

Johnston conduz a aventura como uma divertida matinê dos anos 40. É tudo preto no branco, os bons são bons e os maus são maus: na diversão escapista do cinema dos anos 40 não havia espaços para a dualidade de anti-heróis ou vilões com personalidade. Mas nos dias de hoje, quem perde em termos de complexidade é o Caveira Vermelha (Weaving). Em uma época de tantos vilões interessantes, alguém que quer dominar o mundo apenas por dominar (espelhando a noção de supremacia de Hitler) não convence como páreo para o herói. Isso, somado a um clímax que não empolga tanto, é o principal problema do filme.

...e depois.

Mas não é nada que vá atrapalhar a diversão de uma produção que pode transportá-lo de volta à infância. Os coadjuvantes de luxo já tão comuns às adaptações de quadrinhos funcionam muito bem (com destaque para o mal-humorado coronel de Tommy Lee Jones e o Howard Stark de Dominic Cooper, uma espécie de versão anos 40 do Robert Downey Jr.), mas Chris Evans é quem surpreende. Convincente como magrelo ou fortão, o ator passa toda a honestidade, ingenuidade e heroísmo de Steve Rogers sem cair no ridículo (o que poderia facilmente acontecer com um personagem desses).

A ambientação de época é perfeita: fotografia, direção de arte, figurino. Tudo compondo direitinho uma aventura que parece mesmo saída de 1941 (e que deve bastante a “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”, em que Johnston foi diretor de efeitos visuais), dosando ação, romance e humor na medida certa (e com direito a detalhes nerds: atenção para o Tocha Humana original na feira tecnológica, lembrando que o mesmo Evans já interpretou uma versão atual do herói). Muito mais bem resolvido do que “Thor”, “Capitão América” cumpre o que se propõe, em uma história simples, que se leva a sério o tempo inteiro e se apresenta como um prelúdio para “Os Vingadores”, longa que juntará os heróis Marvel no cinema.

A cara de filme sem final incomoda, mas sabe aquele garoto lá de cima que não gostava do Capitão América? Ele cresceu com paixão pelo cinema e pelos quadrinhos, sonhando com o dia em que os dois caminhassem juntos. Mas nem em suas maiores fantasias ele poderia imaginar um dia em que o cinema adaptasse não apenas um herói, mas todo um universo, com personagens fazendo participações nas histórias de outros e aventuras interligadas. Para o bem ou para o mal, está acontecendo. E para um fã de quadrinhos (e de cinema) é algo mágico.

Mas divago. O importante a contar é que, já velho, este garoto vibrou no cinema como uma criança na sequência  de ação seguinte à cena do experimento que transforma Steve Rogers no herói mais descaradamente patriótico do mundo. Quem diria. Depois de anos de leituras marxistas críticas à ideologia, virei fã do Capitão América.


2 respostas para “Capitão América: O Primeiro Vingador”

  1. Ja tava super interessada no filme, mas depois dessa critica, estou correndo para o cinema garantir meu ingresso!!! É sempre bom uma ler uma critica que não descreve apenas as cenas, mas a emoção contidas nelas!!!

  2. […] para montar sua história: o vilão de “Thor”, o heroísmo clássico e até ingênuo de “Capitão América”, o humor de “Homem de Ferro” e a destruição exagerada de “O Incrível Hulk”. Vindo de […]

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