Os Smurfs


Nossa avaliação

[xrr rating=2.5/5]

Faço minhas as palavras do Smurf Ranzinza, ditas ao final da aventura: “Sabe, eu odiei isso tudo bem menos do que pensei que iria. Não me entenda mal, eu odiei… Só que menos!” De fato, “Os Smurfs” é um filme que vai agradar a dois tipos de público: as crianças que ainda não desenvolveram nenhum senso crítico e ainda não sabem soletrar “exigente”, ou adultos que entrarem na sala de cinema com baixíssimas expectativas.

O filme é mais um de uma onda crescente de adaptações de cartoons “clássicos” que combinam a animação computadorizada com a atuação live action. Esse “novo gênero” inclui pérolas como “Garfield” e “Alvin e os esquilos”, e muito em breve vai ocupar uma estante inteira na locadora mais próxima. A boa notícia é que “Os Smurfs” é muito melhor que a maioria desses filmes. A má notícia é que quase todos eles são bem ruins…

Os dez primeiros minutos são promissores, e teria sido um ótimo filme se os homenzinhos (e mulherzinha) azuis tivessem permanecido em seu mundo mágico, tendo como únicas preocupações seus afazeres medievais em miniatura e o assédio do feiticeiro maligno Gargamel, interpretado pelo ótimo (porém nunca brilhante) Hank Azaria. As cenas em que a vila encantada totalmente criada por computação é atacada pelo “gigante” de carne e osso (e látex) causam um estranhamento agradável em sua oscilação entre o espetacular e o ridículo.

Mas depois de dez minutos o filme vira “Os Smurfs vão para Nova York”, e a coisa desanda. Felizmente, desanda muito devagar, graças, principalmente, ao vilão. A presença do feiticeiro medieval em Nova York rende algumas ótimas gags, mas que vão ficando gradualmente menos engraçadas no decorrer da projeção. Algumas das melhores piadinhas se encontram na primeira metade do filme, e em geral envolvem a interação de Gargamel com o gato Cruel.

Toda a parte “mundana” do filme é terrivelmente insossa. Nenhum dos personagens nova-iorquinos é remotamente interessante, e a opção por confrontar o universo consumista norte-americano contemporâneo com a realidade ingênua e idílica dos Smurfs tem dois efeitos: faz os humanos parecerem fúteis, e as criaturinhas azuis parecerem bobas. As crianças, pelo menos, não irão perceber que a opção por ambientar grande parte da história no “nosso mundo” denuncia uma preocupação maior com o orçamento do filme do que com a narrativa.

“Os Smurfs” tem várias “morais”, como é bem comum em filmes infantis. Uma das principais mensagens – e os azuizinhos demonstram que levam jeito para mensagens piegas em uma das cenas – envolve a caracterização unidimensional dos Smurfs, cada um nomeado por uma característica definidora: temos o Smurf Desastrado, o Smurf Sabichão, o Smurf Corajoso, o Smurf Passivo-Agressivo, etcetera etcetera. E o filme tenta nos convencer de que “nenhuma pessoa é uma coisa só”, mas falha nisso porque trabalha o tempo todo com estereótipos. Os personagens, receio, têm menos profundidade que a conversão para o 3D.

A produção ainda peca por uma falta completa de tensão, mas se redime em parte ao (quase) conseguir evitar “modernizar” os pequeninos com referências gratuitas à cultura pop (há uma cena envolvendo o jogo Guitar Hero que não serve a nenhum propósito na estória e pareceria product placement, não fosse o fato de ser um produto já quase fora de moda). E temos que louvar o senso de contenção dos roteiristas, que mantiveram as gags envolvendo flatulência e fluidos corporais asquerosos no mínimo possível.

Por fim, a cena em que as criaturinhas são confundidas com brinquedos acaba sendo tomada por uma ironia não-intencional, já que os realizadores insistem em homenagear Peyo, o cartunista belga que criou os Smurfs e chegou a ser acusado de esconder uma apologia ao comunismo nas suas histórias, mas nunca recusou as oportunidades de merchandising bastante capitalista que a franquia lhe deu.


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