O Espião que Sabia Demais


Nossa avaliação

[xrr rating=4.5/5]

George Smiley faz parte do alto comando do Circus, uma espécie de divisão de elite do Serviço Secreto Britânico no início dos anos 70, em plena Guerra Fria. Afastado do trabalho junto ao seu superior imediato, ele é convocado para uma investigação paralela de um possível traidor no comando da instituição. Basicamente, Smiley terá que espionar seus próprios espiões.

“O Espião que Sabia Demais” é um filme sobre a paranóia. Em quem se pode confiar? O que é a verdade? O que se esconde por trás de rostos cansados? Não por acaso, o filme é também uma disputa de gerações. Os únicos personagens em que George parece verdadeiramente acreditar são os mais jovens, como Peter (Cumberbatch) e Rick (Hardy). Todos os outros, veteranos da espionagem e contra-espionagem, parecem já ter perdido a própria identidade. Não são mais eles mesmos, sendo inclusive resumidos a codinomes como os do título original (funileiro, alfaiate, soldado, espião).

Nesta adaptação do livro de John le Carré, a Guerra Fria não se dá em aventuras emocionantes a la James Bond, mas em escritórios escuros e claustrofóbicos, onde a burocracia pode ser tão perigosa quanto uma arma. O diretor sueco Tomas Alfredson (do ótimo “Deixa Ela Entrar”) leva sua frieza para a produção, acompanhando seus espiões sempre à distância, tentando apenas de forma sutil apresentar alguns mínimos detalhes mais reveladores da verdadeira personalidade de cada um daqueles homens. O excesso de personagens e as diferentes subtramas com idas e vindas no tempo podem incomodar quem encarar a produção como um típico filme de mistério que precisa chegar a uma resolução, mas “O Espião que Sabia Demais” é muito mais que isso.

Os suspeitos

Trata-se de um filme com tempo próprio, em que o tédio é trabalhado para apresentar a paciência como uma virtude importante em uma profissão onde decisões erradas podem levar à morte. A dimensão contemplativa, quase anestesiada, em que os personagens se encontram é cuidadosamente transformada em narrativa por Alfredson, que consegue, assim, fazer com que os raros momentos de violência sejam especialmente chocantes.

“O Espião que Sabia Demais” é também sobre sacrifícios. Vidas sacrificadas em nome de um ideal, ou muitas vezes em nome de uma simples desconfiança. São homens que há muito tempo deixaram de ter uma vida para se entregar por inteiro a uma roda de constantes suspeitas. Nesse sentido, o personagem de Smiley é exemplar. Vivido de forma contida por Gary Oldman, ele parece comandar o ponto de vista pelo qual todos os acontecimentos nos são apresentados. Ao contrário do que seu próprio nome diz, trata-se de um homem frio. Em diferentes momentos do filme, todos os outros personagens demonstram alguma forma de sentimento (seja perdendo a paciência, ou se apaixonando, ou com medo e desespero), menos ele.

Mas em uma única cena, levemente bêbado, Smiley perde um pouco a racionalidade e nos permite perceber, ainda que de forma difusa e bastante rápida, um pouco da personalidade daquele homem que estamos acompanhando. É com um misto de respeito e pena que conseguimos nos relacionar com ele e os outros personagens de “O Espião que Sabia Demais”. Mas ainda assim, é uma relação difícil, quase que apenas contemplativa. Alguns segredos permanecem impenetráveis. No fundo, ninguém sabe nada demais.


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