Looper – Assassinos do futuro


Nossa avaliação

[xrr rating=4/5]

Viagem no tempo não faz sentido. Nenhum. Não importa o esforço para imaginar um cenário plausível, sempre vai ter algum fio solto pra foder com seu roteiro. Viajar no tempo é um paradoxo. É por isso que, assim como qualquer ficção científica que parta de uma premissa fantástica, filmes que lidam com o tema têm que apresentar uma história envolvente e sólida por trás do mecanismo. Para que, quando as inconsistências comecem a aparecer, o cérebro do espectador esteja muito ocupado para fazer perguntas inconvenientes.

E é exatamente isso o que “Looper – Assassinos do futuro” oferece. Assim como em “Brick” e “Vigaristas”, o diretor e roteirista Rian Johnson faz uma salada de gêneros – “Looper” é uma ficção científica noir com referências a faroeste – mas desta vez com uma história tão sólida quanto a cinefilia do roteiro e um subtexto amparado por temas universais dignos dos melhores clássicos do gênero.

Gordon-Levitt é Joe, um assassino profissional (ou “looper”) em 2044 que executa vítimas enviadas pelos seus chefes de um futuro em que a viagem no tempo foi inventada. Mas quando os caras enviam o próprio Joe sessentão (Willis) para ser assassinado e “encerrar seu contrato”, ele consegue fugir dando início a uma reviravolta na história – que, acredite, quanto menos você souber melhor.

Acredite: isso é MUITO importante.

A ironia engraçadinha da premissa – a única forma do jovem Joe sobreviver à jihad dos seus chefes é matar a si mesmo, velho – duraria 15 minutos, não fosse a entrada da personagem de Emily Blunt, Sara, e seu filho Cid (o ÓTIMO Pierce Gagnon) no filme. Os dois moram em uma fazenda isolada e a mudança radical de cenário – do urbano decadente de um futuro meio “Ensaio sobre a cegueira” meio “Blade runner” para uma paisagem bucólica protegida por um paredão natural – é a maior representação visual do principal conflito do longa: o bom selvagem X a decadência e violência da civilização. Ou criação X predeterminação. Nascemos bons/ruins ou somos criados assim?

Quando essa guinada ocorre, “Looper” se mostra, na verdade, um filme sobre fé. Sobre aquilo em que escolhemos acreditar: que todos podem vir a ser bons um dia ou no determinismo de que pau que nasce torto nunca se endireita. O arco do jovem Joe é a jornada que problematiza essa escolha: um homem que entrega um amigo por dinheiro logo no início do longa e passa por uma transformação que pode surpreender o espectador no final.

Que Johnson esteja mais preocupado que isso funcione do que com as cenas de ação – que estão lá e são boas – é mérito de um diretor que também é roteirista. A maquiagem que torna Gordon-Levitt mais parecido com Willis incomoda e parece aprisionar um pouco a performance do ator. Mas nada que uma cena incrível com os dois em um diner – talvez a melhor do roteiro – não nos faça esquecer. E os buracos no funcionamento da viagem no tempo estão lá. Mas nada que uma boa história, a ótima trilha noir de Nathan “irmão do diretor” Johnson e um ator mirim assustadoramente bom não te façam esquecer rápido, rápido.


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