Lincoln


Nossa avaliação
Lincoln (2012)
Lincoln poster Direção: Steven Spielberg
Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt


Eu gostava das aulas de História. E sou fã do Steven Spielberg. Mas nem isso foi suficiente para conseguir escapar do tédio que é “Lincoln”. Arrastado, com muito politiquês nos diálogos e uma trama que pouco interessa para nós brasileiros, o filme é cansativo e quase burocrático. O pior é que isso não quer dizer que ele seja ruim.

É preciso, antes de tudo, analisar a obra dentro de sua proposta. E apesar de levar o nome do presidente dos Estados Unidos, “Lincoln” não é uma cinebiografia, mas um recorte de um período de seu governo em sua luta para a abolição da escravidão durante a guerra civil que assolava o país. A opção por uma abordagem quase teatral é clara, utilizando muitos cenários internos e uma profusão de diálogos. Spielberg quer mostrar as maquinações políticas e o preço pago (simbólica e literalmente) por complexas transformações sociais. O problema é que o diretor não se dá bem com o tom intimista de uma história que basicamente traz pessoas conversando no escuro. Assim, alguns momentos que deveriam pender para o minimalismo, acabam caindo no excesso e escorregando para o melodrama, já que tudo parece ter que ser grandioso aos olhos do cineasta (seja o choro de uma criança, o murro numa mesa ou um tapa no rosto).

Como era de se esperar, Spielberg doura a pílula e transforma Abraham Lincoln é um herói que quase sozinho acabou com o trabalho forçado. O presidente aparece constantemente como o “iluminado”, tendo sempre alguma fonte de luz o banhando nos escuros quadros que o longa apresenta. Mas o filme ignora, claro, as questões econômicas (o assalariado – ao contrário do escravo – é mercado consumidor, algo importante na crescente industrialização americana do século XIX) e de política internacional (havia pressão de potências europeias) para tomar sua decisão de abolir a escravidão nos Estados Unidos. Se torna, no filme, um ser especial que por pura bondade no coração permitiu aos negros se integrarem à sociedade e a quem todas as gerações devem eterna gratidão.

O filme é basicamente isso aí

Mas apesar dos pesares, o filme consegue, de certa forma, humanizar Lincoln, principalmente graças ao fantástico trabalho de Daniel Day-Lewis. Todo o fantástico elenco é talentoso (a Regina Duarte deles, Sally Field, é o elo fraco, com muitas caretas e overacting), mas facilmente ofuscado pela impressionante caracterização do presidente. Joseph Gordon-Levitt, entretanto, não diz a que veio como filho de Lincoln.

A relação com os filhos, aliás, parece ser uma tentativa de metáfora com o “pai da nação” (como Lincoln é também conhecido): ele é com os filhos como é com o país, um pai severo em alguns momentos, mas também carinhoso e preocupado com o futuro deles. Mas isso nunca se torna algo com sentido forte, acabando por se transformar em uma subtrama que serve apenas para nos entediar enquanto a história que realmente importa demora a se resolver.

Spielberg, nós sabemos, é um grande diretor, e entrega alguns planos e sequências que acabam por valer o ingresso. O texto de Tony Kushner é ágil, mas peca pelo excesso e também por já conhecermos o final da história. “Lincoln” é como aquela aula de História que te dá sono: você está entediado, mas sabe que é algo importante em que vale a pena prestar atenção. Principalmente quando um dos professores é o Daniel Day-Lewis.


Uma resposta para “Lincoln”

  1. […] o mérito de expandir as notas de rodapé das aulas de História, mesmo que o Jardim não possua a mão firme (e o orçamento) de um Spielberg. Mas é como arma política que “Getúlio” mostra toda a sua potência, podendo ser usada de […]

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