The Book Thief (2013) | |
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Direção: Brian Percival Elenco: Roger Allam, Sophie Nélisse, Heike Makatsch, Julian Lehmann |
Existe uma série boa escondida em “Downton Abbey”. Só que ela é sufocada por diálogos expositivos, situações melodramáticas, lições de moral, atuações exageradas e uma direção fraca, que fazem do seriado uma ótima novela das seis (sic). Mas… tem gente que gosta. Da mesma forma, existia um bom filme para ser feito com o best-seller “A Menina que roubava livros”. Só que Brian Percival – diretor de “Downton” – não se mostra à altura da tarefa.
Passada na Alemanha às vésperas da Segunda Guerra, a história acompanha a pequena Liesel (Nélisse) que, depois da morte do irmão caçula, é enviada pela mãe comunista para morar com o casal Hans (Rush) e Rosa (Watson). Lá, ela vai aprender a ler, refugiando-se da perda do irmão e dos horrores da guerra nos livros e na amizade com o judeu Max (Schnetzer), escondido no porão da família.
Em apenas seu segundo longa, Percival confunde cinema com TV e tenta apoiar a produção apenas na atuação de seu elenco, sem conseguir fazer uso dos elementos mais básicos da linguagem cinematográfica. Na sequência em que Liesel começa a roubar livros da biblioteca na mansão do prefeito, por exemplo, o espectador deveria sentir medo pelo risco que a garota corre, mas em nenhum momento o diretor é capaz de tornar a situação realmente tensa ou perigosa.
A impressão é de que, pela história ser contada toda através do olhar da protagonista, os produtores tentam fazer do longa um filme para crianças. Mas acabam fazendo dele um filme infantil. E é só assistir aos trabalhos de Hayao Miyazaki, ou mesmo às produções clássicas de Walt Disney, para saber que se tratam de duas coisas completamente diferentes. A mão fraca de Percival nunca tem coragem de materializar na tela os horrores da guerra, o que é um desserviço ao público e ao material original. Guillermo Del Toro é a melhor alternativa que vem à mente, já que ele fez em “O Labirinto do Fauno” o filme que “A Menina que roubava livros” deveria ser.
Fica a expectativa de que as falhas de direção sejam supridas pela música de John Williams, em um de seus raros trabalhos fora da parceria com Steven Spielberg. Mas o mestre faz uma trilha contida, que se recusa a compensar com arroubos musicais a emoção que não está na tela. Com isso, momentos como o grande clímax dramático do filme são perdidos por uma narração em off equivocada, que antecipa o choque que o espectador deveria sentir ao ver a imagem.
Salvam-se as boas atuações do elenco. Apesar de não muito ajudada pela direção, Sophie Nélisse se mostra uma jovem atriz promissora depois de seu trabalho em “O que traz boas novas”. E Geoffrey Rush tem bons momentos, mas é a ótima Emily Watson que rouba o filme como uma matrona alemã que carrega uma família nas costas e um trovão no coração. Se fosse “Downton Abbey”, ela seria Maggie Smith. Pena que elas não conseguem salvar uma produção inteira sozinhas.