Trapaça


Nossa avaliação
American Hustle (2013)
American Hustle poster Direção: David O. Russell
Elenco: Christian Bale, Bradley Cooper, Amy Adams, Jeremy Renner


Seria injusto dizer que o filme em si é uma trapaça: há boas atuações, um jeitão brega-cool divertido e momentos engraçados. Mas o novo papa-prêmios de David O. Russell está longe de ser tudo isso que as indicações ao Oscar prometem. Entretanto é fácil entender o fascínio de Hollywood pela obra: “Trapaça” é sobre atuar e usar o figurino e sotaques a favor de um personagem. Um filme de atores, para atores e sobre atores.

Baseada em uma história real, a trama acompanha Irving Roselfeld (Bale), um trapaceiro casado com Rosalyn (Lawrence), mas que dá golpes ao lado da amante Sydney (Adams). Quando entra em cena o agente do FBI Richie DiMaso (Cooper), a dupla de golpistas é obrigada a se infiltrar em esquemas para incriminar políticos por corrupção.

Irving, Sydney e Richie precisam interpretar, criar personagens convincentes o suficiente para servirem de isca às suas vítimas. Figurino, cenário, tudo é discutido e explorado enquanto peças fundamentais neste palco de trambiques. Mas “Trapaça” vai além e propõe a investigação de outros papéis, como a instável Rosalyn, o prefeito Carmine (Renner) e o chefe de DiMaso (C.K.).
Não estão – estamos – todos interpretando no teatro que é a vida?

- Vamos sair desse banheiro, pois o filme perde muito quando a gente não aparece...

A temática da atuação, associada ao que de mais chamativo havia nos anos 70 (época em que se passa a história) permite a O. Russell mergulhar no exagero, em um filme em que tudo é over. É como se cada detalhe tivesse que gritar em cena: da maquiagem de Jennifer Lawrence e o permanente de Bradley Cooper, passando pela peruca de Christian Bale até os decotes de Amy Adams. É tudo demais. É tudo muito. Muito diálogo, muitos personagens, muitas situações, muitas reviravoltas e muita música. A trilha sonora com clássicos do pop é ótima, mas passa da conta e só possui um exemplar com função dramática real: “Live and Let Die”.

No meio disso tudo, o trabalho dos atores é especial. Eles dão conta do recado ao fazer personagens em cima de personagens e dominam a cena, apesar de todo o resto que está lá pra chamar a atenção. O destaque fica para a dupla feminina: Adams nunca esteve tão sensual e brinca com sotaques como quem troca de roupa (e ela troca muito de roupa neste filme). Lawrence por sua vez entrega uma performance melhor do que a que lhe rendeu o Oscar, e rouba todas as cenas em que aparece.

David O. Russel construiu uma obra charmosa que peca pelos excessos. Faz o serviço de casa direitinho (com direito a mudança de cabelo de Sydney em um momento de virada da personagem), mas seu olhar encantado para o mundo dos criminosos fica só na fachada, sem se preocupar com o que está fora do palco. Neste sentido, “Trapaça” acaba sendo uma espécie de “quero ser Scorsese” histérico.

E histeria por histeria, é melhor ficar com o original, também em cartaz nos cinemas.


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