Looking 1×07 – Looking for a plus-one


O inferno são os outros. No que talvez tenha sido o episódio mais emocionalmente pungente de “Looking” até agora, Patrick, Dom e Agustín tentaram culpar outras pessoas por suas falhas – mas no fim das contas, tiveram que encarar a responsabilidade por seus atos. “Looking for a plus-one” começou com cara de que ia ser mais do mesmo – Patrick sendo neurótico, Agustín negando os problemas de seu relacionamento, Dom e o restaurante que nunca sai – só que finalmente disparou alguns dos golpes que seus protagonistas precisavam receber.

Demorou.

Agustín cai na real quando vê que suas fotos são menos obra de arte do que o retrato de sua incapacidade de lidar com sua vida e com seu relacionamento. Quando isso fica desconfortavelmente claro para Patrick e Dom, Augie parte para o ataque – bicha má mode ON – e cutuca o medo do amigo de apresentar Richie para sua mãe no casamento da irmã.

Mais tarde, Agustín cancela sua participação na exposição que Frank havia lhe conseguido. E, depois de tentar botar a culpa por tudo na ajuda e apoio incondicional do namorado, confessa que pagou para CJ fazer sexo com eles. É quando Frank perde a paciência com a hesitação imatura de Augie em tomar as rédeas da própria vida, e os dois finalmente encaram a conversa que já precisavam ter tido há muito tempo.

Por mais que seja um pouco verbalização do subtexto, a fala de Frank foi de uma precisão cirúrgica. A cena do ménage com CJ é a definição perfeita do relacionamento deles: Agustín olhando de fora como um observador hesitante, e o namorado constantemente tentando trazê-lo para dentro da relação. É o que vem acontecendo desde o primeiro episódio. Frank termina com Augie, que tem agora três opções: tentar reconquistar o namorado e pedir uma segunda chance; chutar o pau e expor as fotos mesmo assim; ou tirar suas coisas da casa de Frank e sair à francesa, como um cachorro rejeitado. Algo me diz que, sendo Agustín, ele vai escolher uma das duas primeiras.

Extreme Makeover Mode ON

Dom continua tentando realizar o sonho do restaurante próprio e o desafio da semana é fazer um Extreme Espelunca Makeover em 28h para a “noite de fogo” patrocinada por Lynn. De quebra, o mecenas ainda se dispõe a orientar o quarentão com várias sugestões empresariais (bastante) válidas. Só que Dom está naquele nível de stress em que não escuta ninguém que aponte tudo que ele está fazendo de errado.

Quando o Bigode diz que Lynn não pode ficar ao seu redor tratando-o como um adolescente, a expressão de Scott Bakula é maravilhosa porque ele sabe que seu personagem enxerga através de todas as máscaras do quarentão. Ao falar isso, Dom não admite (ou admite mal) que é ele que insiste (como sempre) em se comportar como uma adolescente rejeitada, fugindo do rapaz que lhe deu um fora. Os truques do Bigode não funcionam com Lynn, e não ser capaz de dominar alguém com seu sex appeal deixa Dom completamente inseguro e desnorteado pela primeira vez na vida. Resta saber se isso vai afetar o resultado da noite do frango português ou não.

Raízes do mal

Patrick está (como sempre) desnecessariamente desesperado com a ideia de apresentar Richie para os pais no casamento da irmã. E quando vemos sua mãe dizer que está feliz que ele vai trazer o “amigo” para a cerimônia, a gente consegue entender um pouco o porquê. Richie também está nervoso, mas (como sempre) tenta ser compreensivo. Todas as imagens que o roteiro constrói nesse início são bem claras: a mancha de café marrom, Patrick trocando a camisa do namorado por uma branca, a ideia de que Patrick quer fazer uma situação normal parecer perfeita levando o relógio que foi a mãe que esqueceu, e não ele.

A melhor de todas, porém, é o laço da gravata-borboleta que ele não consegue fazer – e quem vai conseguir por ele antecipará tudo que acontece no fim do episódio. Só que, antes disso, o protagonista dá um piti quando descobre que Richie estava levando maconha para o casamento da irmã – verdade seja dita, o garoto de interior em mim viu alguma razão na reação de Patrick – e o chico desiste de ir.

Chegando lá, numa dessas coincidências que só acontecem na TV (e que não são muito o estilo de “Looking”), Kevin e seu namorado perfeito são convidados. Quando o chefe inglês dá o nó da gravata do protagonista, toda a merda já fica bem previsível. Mas a verdadeira descoberta aqui é Dana, a mãe de Patrick.

Interpretada perfeitamente por Julia Duffy, a matriarca é um totem da passividade agressiva wasp-y e é a melhor explicação de por que o protagonista é do jeito que é. A melhor cena do seriado até hoje foi a conversa entre Dana e Patrick, em que ele explica por que achou que ela não ia gostar de Richie. O protagonista faz todo um discurso mesquinho e preconceituoso sobre o namorado – que ele, em um total estado de negação, atribui à mãe. Um dos melhores momentos de atuação em “Looking” foi o rosto de Duffy ao dizer “bem, com uma descrição dessas”.

O que Patrick não percebe é que os defeitos que nós mais odiamos em nossos pais são aqueles que nós herdamos e praticamos diariamente. O protagonista ainda culpa a não-total aceitação de sua homossexualidade pela mãe por todos os seus problemas e falhas – e o (dês)agradável efeito colateral é que isso permite que ele continue cultivando todos esses defeitos como se fossem inevitáveis.

Minus-one.

Desacompanhado em um casamento, Patrick ainda é obrigado a ver a irmã convencer John a pedir Kevin em casamento porque “ela tem que ir em um casamento gay logo”. Depois vê os dois se beijando na pista de dança. E escuta o pai fazer um discurso sobre como a irmã o vestia de Pequena Sereia quando os dois eram crianças. Tudo isso só reforça todos os demônios internos do protagonista: ele é o inadequado, o pária, a piada, o indigno de amor e de um relacionamento de verdade.

É por isso que Kevin se sente à vontade para beijá-lo no banheiro: porque ele vê Patrick como um pobre cachorrinho de estimação que ele pode acariciar e/ou esquecer quando der vontade. Como ainda lhe restou algum amor próprio, o protagonista recusa o avanço. Mas a química entre os dois é inegável. E Patrick não consegue não enxergar no inglesinho tudo que faria ele mesmo sua mãe feliz.

A cena final é talvez o primeiro momento em que “Looking” pede que você sinta empatia por seu protagonista. A fala do pai (“você não vai querer um desses, né?”, sobre o casamento da irmã) não é intencionalmente condescendente ou preconceituosa. Mas é. E dói no rosto de Patrick porque confirma todos os fantasmas que aquele dia o relembrou sobre si mesmo. Alguém indigno (ou menos digno) de ser amado de verdade.


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