
Sambinha-Bill
"Juninho Bill pra Presidente do Brasil", grita alguém da platéia, logo após a primeira música da segunda banda da noite, Astros. O vocalista sorri e responde, olhando em direção ao engraçadinho: "Meu eleitorado em Belo Horizonte é muito grande", e continua falando como se estivesse em um palanque eleitoral, “e se eu for eleito, todas as Universidades terão bebedouros com água de coco e cada pessoa terá três segurançasâ€. Mal acaba o discurso, ouve-se o grito “Toca 'He-Man'!â€. Juninho não faz cara feia e responde: “Esperem, quem espera sempre alcançaâ€.
Quando criança, entre 85 e 92, Juninho fazia parte da banda Trem da Alegria. Colocar a voz em músicas como “Piuà Abacaxi†e “Fera Neném†mudaram para sempre sua vida. ImpossÃvel escapar das piadinhas e dos autógrafos em vinis de sua banda infantil após as apresentações de sua nova banda adulta. Só que agora em vez de cantar acompanhado de Xuxa e Evandro Mesquita, Juninho está ao lado de dois ex-integrantes do Rumbora, o guitarrista Biu e o baterista FabrÃcio. Mas mesmo crescido, ele continua sendo chamado de “o cara do Trem da Alegriaâ€.

O pulo do cara do Trem
"Quem é o cara do Trem da Alegria?", pergunta um membro do Cinza, banda de abertura, com a tranqüilidade de quem pergunta onde é o banheiro. "Ele não chegou, só aparece na hora do show", responde em tom de brincadeira um dos caras do Astros. Juninho, que já havia chegado com os outros companheiros de grupo, aparece outra vez, animado com a passagem de som.
Juninho cresceu. Agora ele toca rock e é fã da dupla que compôs “Maracatu Atômicoâ€. “Estou fazendo um curso com o Jorge Mautner e o Nelson Jacobina sobre a cultura do Kaos. Depois você procura saber mais, porque é muito legalâ€, indica. Sons menos caóticos e mais bêbados da mesma forma o encantam. “Eu adoro Cachorro Grande e aquela música 'Sexperienced'. Eu comecei a correr atrás da banda e não achava em lugar nenhumâ€, conta Juninho, que finaliza o assunto com a mesma empolgação do começo, “rolou um show em São Paulo e eu fuiâ€.

Uma calabresa e outra quatro queijos, por favor
O som do Astros expõe essas influências de Bill, só que tem também as coisas que o outro Biu, FabrÃcio e o baixista Bruno ouvem: Mars Volta, por exemplo. “O Biu escuta e eu acabo tendo que escutar um pouco, mas não gosto muito nãoâ€, confessa. No palco, Mautner, Jacobina, Cachorro Grande e Mars Volta aparecem, porém não tão explicitamente quanto Mundo Livre S/A e Queens Of The Stone Age. Do primeiro eles incluem “Seu suor é o melhor de você†no repertório, e do segundo encaixam “Feel Good Hit Of The Summerâ€. Já se foram os tempos de “mil balas†e “abacaxiâ€, o negócio agora é “nicotina, valium, vicodin, marijuana, extasy e álcoolâ€.
Na versão do Queens, Bill canta sobre entorpecentes. No entanto, nas composições próprias as letras vão por um caminho menos chapado. “Clube da Tarde†conta o caso de um jovem em busca do primeiro emprego: “Deixa eu trabalhar pra você, deixa eu trabalhar pra você / Só quero um vale bumba, um vale coxinhaâ€.

Os ex-Rumboras FabrÃcio e Biu
No papel em que estão escritos os nomes das músicas, um deles chama a atenção: “Trem da Alegriaâ€. Não se sabe quantos se enganaram, talvez supondo que se tratava de uma versão da banda homônima. Na verdade, é o tÃtulo da última música do disco de estréia do Astros. A balada da banda, que também está no primeiro CD, é sobre amor e dor de dente. Em “Irmãosâ€, uma das mais pesadas, Juninho parece até mudar de semblante e grita que “o caos é a colheita mais trabalhosa e mais fácil de plantarâ€.
Olha o caos aà de novo. Na já citada “Fera Nenémâ€, ele cantava que tinha ouvido dizer que “entre dois mil e um e dois mil e dez / Já era a Terra, numa guerra finalâ€. Esse é o Juninho Bill, que cresce, muda de banda, mas continua falando sobre o caos (e até fazendo curso sobre).