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Se vira nas duas horas

Jamie Cullum ao vivo, Chevrolet Hall, Belo Horizonte, 04/09/06

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por Braulio Lorentz

Fotos: Daniel Oliveira


Cullum está empolgado

Faustão anda de um lado pro outro. Olha em um papelzinho que está em suas mãos e anuncia, depois de uma longa introdução: “Ele já vendeu mais de cinco milhões de discos e tem apenas 27 anos... Jamie Cullumâ€. Jamie tira o casaco, arregaça as mangas e alterna seus olhares ora para a câmera, ora para sua namorada brasileira, Isabela.

Então, surpreendendo a todos, Fausto Silva grita: “Se vira nos 30â€. O cantor inglês começa a emitir sons com a boca, meio que fingindo que toca o microfone. Emenda um rápido beatbox e assovia um trecho de “Get Your Wayâ€. O apresentador parece estar surpreso com a diversidade do repertório do inglesinho e grita: “Ok, mais 30!â€.

Jamie pula em direção ao piano: um pulo daqueles bem altos e bem bonitos. Ele cai sentado no banquinho. A trilha sonora já é outra, “Twentysomethingâ€. O tempo é curto, mas entre uma peraltice e outra Cullum atrapalha seus cabelos atrapalhados e desarruma sua gravata dessarrumada. Depois de aterrissar no banco, Jamie começa a batucar no piano. A música que ele batuca, canta e até rebola é “Don't Chaâ€, das Pussycat Dolls, com direito a trecho de “Sexybackâ€, de Justin Timberlake. O trompete e sax tocados pelos integrantes de sua banda completam as versões. Ufa!


Em momento pianinho

Os dois “Se vira nos 30†fictícios são baseados em fatos reais. Fatos esses que estiveram no show do cantor em Belo Horizonte, no dia quatro de setembro. Na saída do concerto, a maioria dos comentários eram sobre as traquinagens do cantor britânico. Música que é bom, muito pouco. E não é a música que nos interessa?

Sim. E é sobretudo com o piano que o Sr. Cullum faz música. Nesse quesito, o cara explorou todos os níveis do instrumento: tapou os olhos para tocar (“I Get A Kick Out Of Youâ€), utilizou o banquinho em vez dos dedos (“Wind Cries Maryâ€), fez o já citado batuque etc. O violão foi companheiro de Jamie em “London Skiesâ€, faixa feita sob encomenda para sua namorada, que não é muito fã do cinzento céu londrino. Mas isso ele já havia contado no Domingão, na ida verdadeira ao programa, um dia antes do concerto em BH.

Jamie se virou bem nas duas horas de show: falou bastante, andou entre as cadeiras localizadas em frente ao palco e fez o adjetivo cativante perder o sentido em todas as outras vezes que usei. Confesso que foram muitas. Antes de dizer que havia visitado uma escola de samba paulista, Jamie afirmou: “É difícil vir tocar em um lugar onde é feita uma das melhores músicas do mundoâ€.


Essa parte sem graça eu já vi no Faustão

Incorporada aos petardos de pop-jazz de seus três discos estava “Dindiâ€, de Tom Jobim. Já que era “algo bem difícil para um cara inglês que não fala portuguêsâ€, Jamie arranhou aqui e ali. Mas se saiu melhor do que o pessoal do Belle and Sebastian, quando esses tocaram “Minha Meninaâ€, dos Mutantes. “Muita gente vem ao Brasil e tenta cantar em português? Eu sou o pior?â€, perguntou. Uma menina ao meu lado deu um berro: “You`re the bestâ€. Não é para tanto, mas ele foi bem.

Do mais recente disco, Catching Tales, Jamie deixou de lado a atual música de trabalho “Our Day Will Comeâ€, que está em “Páginas da Vidaâ€. A faixa que representou as novelas da Rede Globo foi “Mind Trickâ€, que já pôde ser ouvida em “Belíssimaâ€.

A camisa do Sonic Youth e a interpretação de “High and Dry†do Radiohead – com celulares para o alto – representam o pezinho no pop. O outro pé, entretanto, está no jazz, seja por causa dos improvisos ou devido às doses de Cole Porter e Frank Sinatra. Do primeiro ele surrupiou “I Get a Kick Out of Youâ€, e do segundo “Singin' in The Rain†.


Onde está Cullum? Aproveite e tente achar um saxofonista e um trompetista

E foi justamente quando Jamie cantarolava essa última, que a platéia mais próxima foi convidada a curtir o restinho de show na beirada do palco. No momento de histeria coletiva, começou a ser formada uma reação em minha cabeça.

Aquele cara despenteado de vinte e alguns anos pode ser a porta de entrada de muitos pivetes e pivetas para coisas como Thelonious Monk ou Bud Powell. De forma parecida, Simple Plan e Panic! At the disco dão empurrões na moçada em direção ao lado da prateleira onde estão os álbuns do The Clash. Quem fala isso é um cara que tem vinte e alguns anos e fechou este texto ao som de Duke Ellington.

“Quando eu voltar ao Brasil, tragam seus amigosâ€, disse Jamie antes de ir embora. Pode deixar, Jamie. Mas se o Simple Plan vier eu posso levar os meus amigos também, néam?

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