Duas coisas me chamaram a atenção logo que desembarquei em Varginha. A primeira tem a ver com um assunto que, a princÃpio, gostaria de evitar, mas vi que não teria como: o tal E.T. de Varginha.
Já se passaram dez anos do ocorrido e seria de se imaginar que a população local já estivesse de saco cheio da história. Mas o que se vê é um orgulho do mito criado e lucro em cima dele: há um monumento em forma de disco voador no centro da cidade, pontos de ônibus em formato de naves - e qualquer lojinha varginhense que se preze vende inúmeros souvenires com o tema.

"Este ônibus espacial vai pro Magia do Cinema?"
Menos de cinco minutos após minha chegada, vi um ônibus com o monstrinho desenhado e a seguinte frase: “se ele gostou, você vai amarâ€. Segundo a linha de raciocÃnio, o E.T. é rei e, se ele vem de tão longe para apreciar o lugar, nós – pobres mortais, que moramos “aqui do lado†– obviamente ficaremos maravilhados.
A lógica pode ser questionada, mas a verdade é que Varginha é uma belÃssima cidade. O segundo fato que me saltou aos olhos talvez tivesse passado batido se o cinema não fosse o meu foco: Varginha tem intimidade com a sétima arte. Em um raio de cem metros do hotel em que me hospedei, encontrei três locadoras. Todas excelentes. E o municÃpio ainda conta com boas salas de cinema.

While my eyes go looking for flying saucers in the sky...
Entre 22 e 26 de novembro, aconteceu o 5º Festival de Cinema de Varginha. E, sabendo da vocação local, não é de se estranhar que o prêmio dado aos vencedores seja o ET de Ouro - uma paródia da estatueta do Oscar com um ET no lugar do homem careca.
Mas a história contada por Israel Lanari de Souza nos dá a exata idéia de como o circuito comercial pode segregar. Casado, 38 anos e pai de quatro filhos, ele contou que não vai ao cinema há quase duas décadas. O motivo da ausência: “só de transporte, gastaria 28 reais para levar minha famÃlia à sala, que fica do outro lado da cidadeâ€. Assim sendo, Israel chegou cedo ao Magia do Cinema para garantir um bom lugar. E assistiu, de camarote, à oficina das crianças.
A sessão de Varginha provou que é impossÃvel estabelecer parâmetros entre o tamanho da cidade, o público presente e a tal “magia do cinemaâ€. Os espectadores não compareceram em peso, como em Poços de Caldas e Divisa Nova , e um fato inédito em meus dias de cobertura quase estragou a noite: logo no inÃcio de “A Era do Gelo 2â€, uma chuva forte e repentina assustou.

Na tela, eles também tentam fugir da água...
Mas, tão rápido quanto veio, a chuva se foi. E fez a equipe, já resignada com a fuga do público para se abrigar do temporal, emocionar-se com a volta de quase todos os espectadores, alguns minutos depois. Infelizmente, Israel foi um dos poucos que não voltaram, pois teve que zelar pela saúde do filho caçula de apenas três anos de idade, que não podia se arriscar no tempo instável.
Apesar da sentida ausência, o aguaceiro não conseguiu, de forma alguma, derreter a era do gelo.