Apenas dois anos e um disco separam as duas turnês do Placebo no Brasil. Depois dos oito shows da banda por aqui em 2005, o único grande trabalho de Brian Molko, Stefen Olsdal e Steve Hewitt foi lançar o mediano Meds. Mas, por dois motivos, o show da banda na noite do último domingo, na casa de shows carioca Citibank Hall, com abertura do Gram, foi bem mais do que um bis com delay de 24 meses.
O primeiro motivo é que, se em minha opinião, Meds é um disco meio xarope, para a maioria dos fãs isso não é verdade. “Medsâ€, "Infra-red" e "Song to say goodbye" geraram tantos gritos e pulos quanto as antigas "Every you, every me" e "Without you I'm nothing". Um terço do repertório do show foi do disco novo, e eu não vi nenhum fã mordendo o piercing labial de tédio enquanto eles não tocavam as músicas velhas.
E Meds não foi o único disco lançado nos últimos dois anos. Teve também esse disco, ou esse outro aqui. Pode ler lá no site oficial do Placebo: "Todo o atual grupo bem sucedido de bandas de rock alternativo dos EUA, como Panic! At the Disco, AFI, Aiden e My Chemical Romance, comentou recentemente, de alguma maneira, sobre como o Placebo foi uma influência em sua música". Não foi por acaso que a Virgin relançou Meds nos EUA no inÃcio deste ano.

A culpa é do Brian Molko
O ponto aqui não é entrar na discussão sobre a parcela de culpa de Brian Molko no fenômeno da palavrinha de três letras. O que importa é que esta é a segunda grande diferença em relação à turnê de 2005: hoje se pode dizer com certeza que o Placebo é uma banda da geração passada. Isto não é necessariamente ruim. (E não, eu não vou comparar o show do Placebo do Citibank Hall com o de Roger Waters na Praça da Apoteose, dois dias antes.)
Não é que o Placebo tenha ficado para trás. Você pode notar isto pela casa cheia, pelo jeito divertido e peculiar que o baixista Stefen Olsdal dança e pelas pessoas de toda a parte (não só da turminha da grade) cantando de cor as letras novas e antigas. A seqüência que começou com "Bionic" acelerada, passou por "Special K" com o "parapapapara" por conta do público e foi até o choque de guitarras em "The Bitter End" (três faixas de discos diferentes), mostrou como a banda sabe transformar em um bom show o potencial de seu repertório cada vez mais extenso.
Mesmo depois de um bis meio arrastado com "Running up that hill", "Taste in men" e "Twenty Years", precisou de um segundo grupo de luzes sobre o público ser aceso para as pessoas voltarem ao mundo real e tomarem uma atitude para se encaminharem à saÃda. Alguém devia criar um prêmio no Grammy ou pelo menos dar uma medalha de honra ao mérito para uma banda que lota uma casa com ingressos caros, num paÃs estranho, num bairro longe, em um domingo à noite.

Stefen, o homem das danças estranhas
No mÃnimo, Brian Molko provou que é possÃvel usar maquiagem, cantar sobre desilusões amorosas e ao mesmo tempo fazer boa música. Nenhum dos rótulos que o Placebo carregou ao longo de sua carreira foi muito justo com a banda ("next big thing", estranhos no ninho do britpop, ou tios de Gerard Way). Mas por um caminho meio torto eles conseguiram manter um grande grupo de fãs. E o grupo deste paÃs estranho aqui teve uma noite de domingo bem mais divertida do que aquelas em que a gente só consegue escutar Placebo porque algum editor conseguiu infiltrar músicas boas no meio daquelas matérias chatas do Fantástico.