O Red Eventos, casa de shows com cara de boate poperô, em Jaguariúna, cidade próxima a Campinas, foi o inusitado abrigo do sexto dos oito shows no Brasil dos britânicos do Placebo, na última terça-feira do mês de abril. O lugar não estava lotado, mas a cinco metros da grade era absolutamente impossÃvel dar um passo para frente em meio à massa de garotos hipnotizados pelo vocalista Brian Molko. Às vezes era preciso andar um pouco para trás para tentar respirar ou tomar uma distância mÃnima da parcialidade que não consta na cartilha do bom jornalismo.
Brian, Stefan Olsdal (baixo/guitarra) e Steve Hewitt (bateria) dispensaram sorrisos e discursos para conquistar o público com um som competente. Como um Michael Stipe mais sóbrio, Brian prendeu a atenção com movimentos curtos e uma voz precisa. A qualidade das guitarras e batidas durante todo o show mostrou que a textura peculiar das canções do Placebo não é truque de estúdio.

Brian Molko faz a a alegria dos indie-kids
O set-list foi exatamente o mesmo dos outros shows da turnê latino-americana do Placebo: basicamente as canções da coletânea Once More With Feeling (2004), com destaque para os dois últimos discos, Sleeping Whith Ghosts (2003) e Black Market Music (2000), além das inéditas da coletânea, "I Do" e "Twenty Years". Eles se dão ao luxo de deixar de fora os hits "You don't care about us", de Without You I'm Nothing (1998) e "Bruise Pristine", da estréia Placebo (1996).
Os indie-kids tinham catarses coletivas cada vez Brian Molko chegava um pouco mais perto. Ele abandonou seu visual de garotinha e está duplamente andrógeno. Cabelo curto, camisa branca e gravata: menino-que-quer-ser-menina-que-quer-ser-menino. Stefan Olsdal também é uma figura divertida, improvisando dancinhas e corridas pelo palco. Em "Pure Morning", Molko deixou o microfone para público cantar.
"The Bitter End", do último disco, foi surpreendentemente a música que mais fez os garotos se mexerem, talvez pelo clima de euforia do inÃcio do show. "Every me every you", (hit que fez parte da trilha do filme "Segundas Intenções", de 1999), foi tocada em seguida e provocou empurra-empurra nas primeiras filas. Os apelos dos seguranças e os acordes de "Protect me from what I want" tranqüilizaram o público. "This Picture" e "Special K" também foram recebidas com bastante empolgação, assim como o grand finale, "Nancy Boy".
Os momentos mais calmos não deixaram de ser ainda mais intensos, como "Without you I'm nothing", em que Oldsal fez a segunda voz que já foi cantada por David Bowie. O público ficou inebriado em canções como "Special Needs", "Teenage Angst" e "36 Degrees", as duas últimas transformadas em baladas, provavelmente para Molko exercitar sua habilidade de dar um trago de cigarro entre um verso e outro.

Brian pede palminhas e Hewitt se afoga em tambores e pratos
Após o fim do show, um locutor anuncia a banda Volpina como a vencedora da etapa local do concurso Claro que É Rock. Aplausos para a banda, que tem boas músicas e é bem mais bacana do que o próprio nome. Mas, sinceramente, neste momento o pretenso jornalista acabara de desistir de qualquer tipo de observação imparcial para se juntar aos garotos que imploravam por uma palheta, set-list ou qualquer objeto para guardar como recordação daquela noite incrÃvel.