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Festival No Ar Coquetel Molotov 2007

Teatro da UFPE, Recife, 14 e 15/09/2007

por Marcela Vieira (fotos: Neca Lucena)

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Nos dias 14 e 15 de Setembro, toda a comunidade indie recifense – e creio que a partir justo desse ano, o público não-indie também – se reuniu mais uma vez pra prestigiar possivelmente a melhor edição do Festival No Ar Coquetel Molotov. Desta vez o evento trouxe consigo o projeto Invasão Sueca, também empreitada da “armada independenteâ€, antes realizado apenas no Sudeste do país, e que traz o melhor da cena alternativa da Suécia na atualidade. O que se escutava no hall do Teatro da UFPE era que pra curtir melhor o festival, a vibe era saber a programação e ir correndo baixar as músicas pra cantar pelo menos um pouquinho com as bandas desconhecidas que aportam por essas terras nessa época do ano.

Como nem só de música vive o Festival No Ar, mostras de curtas e debates com nomes como Dagoberto Donato (Trama Virtual), Bruno Ramos (Slag Records) e o jornalista Lúcio Ribeiro (Popload), entre outros, garantiram o sucesso das discussões sobre internet, imprensa, literatura marginal e a periferia, sempre voltando-se para a cultura pop nacional e internacional. Os ingressos esgotados comprovaram a afirmação do Festival No Ar como um dos mais importantes do país após três anos de estrada.

Somos daqui, não somos de lá

A edição 2007 do Festival No Ar foi provavelmente a que trouxe mais atrações internacionais desde sua estréia, em 2004. Porém, os artistas daqui ainda foram maioria e fizeram bonito nos showcases e no palco principal, dentro do Teatro da UFPE. A pernambucana Backstages não se apresentou por alguns probleminhas pessoais: o baterista ainda estava saindo do trabalho pra poder ir direto pro festival tocar e não chegou a tempo, infelizmente. Mas ainda assim, quem foi pra prestigiar as bandas brazucas não se arrependeu.

Vamoz!

Abrindo o segundo dia do festival no palco principal, os pernambucanos da Vamoz! pareciam extremamente felizes com o convite do Coquetel Molotov para participar da festa. Extremamente à vontade, Marcelo Gomão, vocalista e guitarrista, dividiu seu entusiasmo e sua bebida com o público, que cantava instigado as músicas de seu “rock duroâ€. O set list foi basicamente todo do álbum Damned Rock 'n' Roll, que traz boas músicas como “The Sun Comes Up†e “Target of Rockâ€, além de uma ótima cover de “Heart of Gold†de Neil Young, influência clara dos meninos.

Wado

O catarinense-quase-alagoano Wado foi o segundo a se apresentar no segundo dia do festival e fez um show cheio de samba rock e suingue, mas não tão instigado. O público gostou e dançou sambinhas na pontinha dos pés, mas o número de presentes dentro do teatro era pequeno se comparado à quantidade de pessoas que ficava circulando pela feirinha no hall. “Tarja Preta†e “Alguma Coisa Mais Profunda†encerraram a apresentação do moço.

Supercordas

Tocando pela primeira vez em solo recifense, os cariocas da Supercordas fizeram um show bom, mas morno, talvez pela falta de identificação do público com a “ruradelia†(a fusão da psicodelia urbana com o rock rural) da banda. Mesmo assim, eles pareciam felizes de tocarem no festival e satisfeitos com alguns poucos fãs que cantavam músicas como “Frog Rock†pertinho do palco. Ouvi alguns comentários de influências da fase folk do americano Beck Hansen em todas as músicas da banda, mas nada tão perceptível – ou tão inspirado – assim.

Fóssil

Os cearenses do Fóssil se apresentaram no showcase da primeira noite do festival. Show ótimo, bastante instigado, apesar de ser todo instrumental. Músicas criadas do improviso, que casavam quase que perfeitamente com imagens de filmes cults como Clube da Luta, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e 2001: Uma Odisséia no Espaço. Devo ressaltar que foi realmente uma experiência única ver as imagens dos filmes escutando o som da Fóssil. Completamente recomendável.

Elma

Também instrumental, mas pendendo mais pro metal pesado. O público gostou bastante da apresentação dos paulistas no showcase logo após a apresentação da Fóssil, mas confesso que algumas vezes deu uma preguiça danada. Um integrante ou outro não sabia o limite entre presença de palco e chinfra e isso prejudicou um pouco a minha humilde visão da banda. Mas sim, fizeram um bom show, bastante aplaudido pelos metaleiros de plantão, que pediram bis e saíram falando muito bem da banda hall afora.

Volver

A banda pernambucana, tida como um dos destaques da atual cena de Recife, abriu a primeira noite do festival no palco principal trazendo um set list de boas músicas inéditas, presentes no seu próximo álbum “Acima da Chuvaâ€, com lançamento previsto para 2008. Músicas como “Tão Perto, Tão Certo†e “Pra Deus Implorarâ€, pouco comparáveis às músicas do primeiro disco dos meninos, fizeram alguns fãs dançar timidamente, muito embora o vocalista Bruno Souto pedisse o tempo todo pela animação da platéia que ainda se acomodava no teatro. O desejo de Bruno só foi atendido mesmo quando os hits “Você Q Pediu†e “Mr. Bola de Cristal†tocaram.


Volver: retroceder nunca, render-se jamais.

Conceição Tchubas

Abriu a segunda noite de showcases com jam sessions espontâneas de um bom rock instrumental bastante influenciado por Frank Zappa. Segundo a definição deles mesmos, a olindense Conceição Tchubas faz um “Free Jazzy Space Metalâ€. A Sala Cine UFPE não deu pra quem queria. Ficou tão lotada que tinha gente assistindo ao show da banda do irreverente Grilo nos corredores da entrada. A empolgação de Grilo era tanta que uma corda de seu baixo partiu durante o show, mas ele não estava nem aí pra uma simples cordinha e continuou tocando com toda a “influência libertadora da arteâ€, como os próprios músicos definem.

Cibelle

Cibelle é linda. Dona de uma voz suave e encantadora, a paulistana radicada em Londres fez seu primeiro show no Brasil com sua banda de apoio completa para o Festival No Ar e se emocionou bastante, derramando lagriminhas marotas ao final da apresentação. Agradeceu bastante a oportunidade, conversou o tempo todo com o público, escutou várias vezes a chamarem de “gostosa†- e ela retribuiu com um engraçado “gostosa é você†- e fez um show inspirado, cheio de vigor e com a sapequice própria dela. Tocou músicas de seu primeiro disco lançado por aqui, o The Shine of Dried Eletric Leaves, que mistura bossa nova e folk com alguns toques de modernidade tamanha a quantidade de aparatos instrumentais utilizados por ela no palco. A cena mais emocionante foi sem dúvida quando Cibelle viu todo mundo cantar com ela “London, London†de Caetano Veloso, que ela regravou em parceria com Devendra Banhart recentemente.

Somos de lá, não somos daqui

As bandas da nova cena alternativa sueca realmente deram show. Fosse nos showcases, fosse no palco principal, o projeto Invasão Sueca atraiu o grande público e colocou todo mundo pra cantar e dançar.

Love is All

Única banda do projeto Invasão Sueca a se apresentar no palco principal do Teatro da UFPE, a Love Is All fez bonito. O estilo dance-punk-riot-grrrl-indie-pop levantou o público e fez todo mundo cantar mesmo não conhecendo algumas músicas. Entre um gole e outro de caipirinha, os suecos foram bastante simpáticos, perguntaram se alguém ali já tinha sido mordido por tubarões – alguém deve ter comentado com eles a má fama da relação Recife/tubarão – e tocaram músicas do álbum Nine Times, That Same Song, lançado pelo selo What's Your Rupture? em 2006.

Hello Saferide

“I have this theory that every person is a song. And if you ever met a person who is like 'God Only Knows' by The Beach Boys, you should stick to that personâ€. Com essa teoria Annika Norlin ganhou de cara o público que lotava a Sala Cine UFPE. Com sua voz doce e músicas lindas tanto em letra quanto em melodia como “People Are Like Songs†e “Anaâ€, o Hello Saferide fez uma apresentação quase que mágica, em que o público extasiado se deixava levar pelo carisma e doçura de Annika.


Hello Saferide: teorias baseadas nos Beach Boys.

Suburban Kids With Biblical Names

Uma das melhores atrações do festival, o Suburban Kids With Biblical Names fechou a segunda noite de showcases com sala lotada, sem espaço nem pra respirar. Como era climinha lounge, todo mundo ficava sentado, assistindo o show calmamente. Mas Peter e Johan pediram pro público ficar de pé e executaram seu set de músicas bacanudas e dançantes como a inédita “God Save Roger Nicholasâ€, e as mais antigas “Loop Duplicate My Heartâ€, “Marry Me†e “Funeral Faceâ€, presentes no primeiro e ótimo álbum da dupla, o #3, lançado pelo selo Labrador.

Somos o resto do mundo

Além das atrações do Invasão Sueca, o No Ar também trouxe outros dois nomes de peso no cenário alternativo internacional. Nouvelle Vague e Prefuse 73 foram as principais atrações e comprovaram o favoritismo no festival.

Prefuse 73

Guillermo Scott Herren e seu projeto Prefuse 73 encerraram a primeira noite do festival e fizeram o que já era esperado: um show com ótima qualidade musical. E só. Pouco simpático, Guillermo parecia estar tocando na garagem de casa, enquanto os fãs se apertavam na frente do palco pra se entregar ao hip-hop do americano. A mistura musical passeava pelo jazz, punk, sons e ruídos acompanhados de ótimos baterista e tecladista, pra fazer o público ficar embasbacado com a qualidade musical do cara. O respeito por ele é tanto que seu último trabalho, o Security Screenings, contou com a participação de Kieran Hebden do Four Tet e Tunde Adebimpe do TV On The Radio, ou seja, é coisa boa mesmo. Porém, pra resumir a história, o show foi muito bom, mas pouco inspirado. Qualidade demais, simpatia de menos. Há os que disseram que foi o melhor show do festival. Bem, eu preferi esperar o Nouvelle Vague.


Nouvelle Vague: We just can't get enough.

Nouvelle Vague

Este sim foi o melhor show do festival inteiro. E digo sem sombra de dúvidas. Foi de sensibilizar o mais insensível dos ouvintes escutar todas aquelas versões lindas que Marc Collin e Olivier Libaux fizeram para clássicos do final dos Anos 70 e 80 ao vivo e a cores, ainda mais com a simpatia e graça de Melanie Pain e Phoebe Killdeer nos vocais. Transformar “Love Will Tear Us Apart†do Joy Division em bossinha foi uma grande sacada. E mais lindo que ver Melanie Pain cantando essa pérola, foi assistir ao público cantar em alto e bom som a música inteira, enquanto eles pareciam se despedir, pra depois voltar no bis com uma ótima execução de “I Just Can't Get Enough†do Depeche Mode em ritmo de sambinha. Também memorável e super sexy foi a execução de “Guns Of Brixton†do The Clash e “Too Drunk to Fuck†do Dead Kennedys, em que as moçoilas distribuíam goles de uísque pro público. A sensação final foi um enorme gostinho de quero mais... mais Nouvelle Vague e Festival No Ar.

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