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Blogão do Indie 2007 - 05 a 11 de outubro

Janelas para todos os cantos

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De 05 a 11 de outubro, o Pílula Pop cobre o Indie - Mostra de Cinema Independente, em Belo Horizonte. Aqui, os filmes que a gente assistir, as indicações que a gente arriscar, as surpresas que aparecerem e tudo que mais que couber.

15 de outubro – Depois de dias

10 da manhã

por Rodrigo Campanella

Duas perguntas por email para Daniella Azzi, uma das diretoras do Indie:

1. O preço do aluguel das cópias impediu que vocês trouxessem algum filme que queriam nesse ano?

Muitas vezes escolhemos um filme e ele não pode ser exibido por muitos fatores. Pode ser, por exemplo, porque na época ele está comprometido com outro festival. Agora, quanto ao preço....há sempre muita negociação antes, mas quando vemos que vai ficar muito caro e não há flexibilidade na negociação, só aí desistimos. Muitas vezes o fato do Indie ter entrada franca não ajuda em nada na negociação com os distribuidores estrangeiros, não é algo que os sensibilize muito.

2. Como é tocar a mostra sem ter a garantia de qual será (e como será) o patrocínio para o ano que vem? Isso faz com que vocês tenham que adiar novas idéias?

Bem, são várias idéias deixadas pelo caminho, várias, várias. Nós trabalhamos com um orçamento que diz por qual valor mínimo podemos produzir a mostra naquele ano. Aí, conforme vão surgindo os patrocínios (ou não) vamos usando ou cortando idéias. Depois há as prioridades, estabelecidas pelos objetivos de cada ano. Do tipo: com esse X valor é melhor mais filmes inéditos (que têm também os custos de tradução, legenda, frete, aluguel), ou mais lugares de exibição?

Por aí vai, é a maior "escolha de sofiaâ€. O mundo ideal seria poder trabalhar com um orçamento já mais ou menos estabelecido e garantido. Mas duas coisas são prioridades: o conceito de curadoria do indie tem que se manter e o orçamento não pode extrapolar.

13 de outubro - No meio do caminho

A vida é cheia de som e fúria

por Igor Costoli

Sobre o documentário Oriente Desperdiçado, estão ali, sim, todos os elementos escatológicos, pensamentos rasos de quem tem orgulho em estar sempre bêbado. Não são heróis, também não são párias. Mas eu vi alguma coisa mais ali, no subterrâneo, ainda que seja possível escavar esse algo mais com uma colher...

Bebo pra não ficar consciente de mim mesmo.


Wasted Orient

Não é, definitivamente, um documentário sobre qualquer China dos dias de hoje. Nem a tradicional, nem a moderna, e é complicado pensar em choque cultural ali. Entretanto, não pensar em choque quando vemos a casa ou hábitos de higiene dos integranes do Joyside é impossível. Um dia antes o indie afirmava que o punk não está morto, e eu pergunto que punk é esse que está vivo?

Punk is not Dead é um documentário que, em algum momento, vê como o Punk foi absorvido pelo mercado e se tornou também um negócio. E isso é algo muito pertinente, num mundo em que até a rebeldia é bem de consumo, um mundo em que "o que está vendendo bem são roupas anti-consumismo". Entretanto, é fora do mainstream (e justamente por isso, talvez) que o punk continua sendo forte e, principalmente, punk.

- Se você ama alguma coisa, deve odiá-la também... porque só o ódio é verdadeiro. Então você deve amar e odiar aquela coisa (...) Admiro todos que fazem rock, mas, sei lá, o rock, não é necessário...

Não são, verdade, grandes pensamentos, mas o guitarrista Yang Yang chama atenção no grupo. Não porque é japonês, mas porque entre todos parece o que não consegue usar o álcool como escapatória. Ele tenta, mas apesar de tudo, ainda é o elemento que distoa do grupo. Não há julgamentos, não há muita moral em jogo neste documentário, mas ele carrega uma tristeza no jeito, que escapa quando está bêbado.

Uma tristeza sensível, como se tivesse acordado um dia, percebido onde estava, e decidido beber pra não perceber novamente. Mas Yang Yang não consegue, e segue um tom abaixo do grupo. E antes de terminado o documentário, o guitarrista é excluído do grupo, sem que tenhamos qualquer resposta quanto ao porquê. Não que fosse necessário...

12 de outubro - O início do fim

Conversas Reveladoras

por Igor Costoli

- A coluna do Mainardi na Veja deveria se chamar entrelinhas...

E o indie chegou ao final, mas isso não quer dizer que acabou. Assim como vários filmes já haviam sido dados como mortos durante a projeção, temos alguns que continuam bem vivos, mesmo após subirem os créditos. Um festival é isso, ver, amar e odiar passam a ser coisas muito próximas, principalmente de cadeiras muito próximas. Veja o caso do tal "Livro das Revelações":

- E aí, o que vocês acharam?

- Odiei, talvez o pior filme que já vi.

- Detestei também, mas sei lá. Pergunta pra ele ali, ele é cinéfilo, talvez tenha outra opinião...

Não assisti ao filme, mas estou me divertindo com sua capacidade de polarizar contradições. Por exemplo, o cinéfilo:

- E aí, que tal o Livro das Revelações?

- Gostei muito, muito mesmo!

- Ah, então ele é bom?

- Bem, na verdade, estou na dúvida se ele é genial ou medíocre...

Ano passado, fui ver O Sabor da Melancia. Quando cheguei em casa, e me perguntaram se o filme era bom, levei alguns segundos até responder que o longa simplesmente não se adequava a um conceito tão ocidental, quadrado e rígido como bou ou ruim. Era um filme pornô-musical taiwanês, que provavelmente nem poderia ser caracterizado como apenas isso.

- E você, que achou quando foi ver?

- Ow, esse Livro... começou muito ruim, eu tava detestando, já pra abandonar a seção. Só que na última meia-hora ele se transformou no melhor filme do indie!

- Como?

- Antes ele não fazia sentido, na última meia hora ele resolveu ficar absurdo...

A sinopse do indie diz que trata-se de um "thriller erótico sobre o desejo, a obsessão e o poder entre homens e mulheres". Quem viu, não esquece...

- Ow, eu quis dar uma chance, mas o filme é horroroso!

12 de outubro de 2007 – The last broadcast

Dez da matina

por Rodrigo Campanella

Fechei meu Indie ontem com um dos programas que me deixou mais satisfeito: a sessão dupla “Flatland – O Filme†e “Huldúfolk 102â€. “Flatlandâ€, de Jeffrey Travis e Dano Johnson, é uma bela de uma animação em curta metragem, adaptação de um romance do inglês Edwin A.Abbott (Flatland,um Romance de Muitas Dimensões). Apesar da animação ser bem superior ao segundo filme, é a união entre ela e o documentário quase didático “Huldúfolk 102†que vira uma experiência difícil de esquecer. Seria uma surpresa feliz que outras mostras e festivais bolassem sessões duplas tão intrigantes e bem pensadas quanto essa daqui pra frente.

“Flatland†é a história de um mundo 2D em que pensar na possibilidade de existir uma terceira dimensão é visto não somente como absurdo, mas como crime também. Nessa sociedade hierarquizada por geometria (triângulos fazem o serviço pesado, círculos comandam e ditam as leis), a inexistência da terceira dimensão é indispensável para manter a estrutura de poder tal e qual está. Isso até o quadrado Arthur e sua neta, a hexágono Hex, ficarem a ponto de provar que outra dimensão realmente existe – e se a terceira existir, por que não a quarta, a quinta, a sexta?


Flatland - O Filme

Logo que os créditos da animação sobem, entra no projetor um documentário média-metragem anunciado como “sobre o povo invisível da Islândia†e seus impactos na cultura daquele país. E quando a bruma inicial sobe e “Huldúfolk 102â€, de Nisha Inalsingh, começa a esclarecer a que veio, a gente percebe que na verdade está frente a frente com a quarta, a quinta, ou a sexta dimensões, bem aqui perto. E a pergunta é cristalina, já clara nas entrelinhas da animação que veio antes: Flatland não é aqui mesmo?

Devem existir descrições correndo pela internet sobre o que exatamente fala “Huldúfolk 102â€, mas não sou eu que vai estragar a surpresa, ainda mais por ter gostado bastante de passar por ela. Só posso dizer que apesar do documentário ser desperdiçado como média-metragem – daria tranquilamente um curta, o mesmo assunto é discutido às vezes por quase vinte minutos – a união entre os dois é muito feliz, ainda mais quando a animação é vista primeiro. Foi um fecho melhor do que o esperado para as minhas sessões do Indie nesse ano, tanto pela beleza da animação de “Flatland†quanto por sentir minha segurança nesse mundo sendo cutucada por mais de uma hora.

11 de outubro – Last day

Nove e dez, noite

por Rodrigo Campanella

“A Outra Metadeâ€, do cineasta chinês Ying Liang é bem interessante. No mínimo, um retrato assustador da China atual. Um pouco mais além, um retrato assustador de um país a esmo obscurecido por uma publicidade estatal tão mentirosa quanto onipresente, visto através do reflexo de uma mulher de vinte e poucos anos presa nesse labirinto, cheio de gente algemada pelas regras sociais e/ou totalmente sem rumo.

A cópia do Indie projetada em tela grande perdeu uma parte considerável da definição que não comprometeu no geral mas atrapalhou bastante em alguns momentos. Nesse caso específico, dentro da mostra desse ano, é um filme que eu acho que deve crescer se puder ser visto com a imagem totalmente nítida. Mas o filme provavelmente ainda é um pouco mais do que foi dito no parágrafo acima e do que eu posso dizer nesse momento de cansaço puro, daquele que desce no corpo quando a cabeça dá o alerta que a maratona acabou (infelizmente, sempre).

Então eu deixo aqui ainda a pergunta da pequena do catálogo do Indie sobre o filme: “Indicaria a seqüência final enigmática a sugestão de que algo novo pode vir da adversidade?â€. Até eu começar o parágrafo inicial desse texto, essa pergunta me fazia algum sentido, mas dentro da história específica da protagonista, Xiaofen.

Tenho a grande impressão de que talvez a ficha tenha caído plenamente só agora. Pensando sobre as crises e complexidades que os jornais anunciam sobre a China atual, esse país se instalando como potência e navegando na ocidentalização, a pergunta da sinopse e a resolução do filme começam a fazer muito mais sentido. E “A Outra Metadeâ€, nesse exato momento, explode na minha cabeça virando algo bem maior do que parecia à primeira vista. Com os dias, e a poeira baixando, vai ser possível pensar algo sobre ele com mais calma, e menos sono.

11 de outubro – O enigma da chegada

11 de outubro - O lixo que é um luxo

11 de outubro – Bootleg

10 de outubro – Passada rápida

10 de outubro - Finalmentz

10 de outubro - Complexo e Simples

10 de outubro – De madrugada

09 de outubro – Amanhã, quarta-feira

09 de outubro – Sem peso

09 de outubro – 15 do segundo tempo

09 de outubro – Lotou

08 de outubro – Mais de hoje

08 de outubro – Luz?

08 de outubro – Sang-Soo

08 de outubro – Você está no Indie quando...

08 de outubro – A rapidez da festa

08 de outubro – A velocidade da festa

07 de outubro - Links interiores

07 de outubro - Como alimentar uma “Savage Graceâ€

07 de outubro – Um filme nunca acaba quando o projetista acende a luz

06 de outubro – Mutum

06 de outubro – Zine

06 de outubro – O que já dá pra dizer

05 de outubro – Sob o signo de Mule

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