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Eletronika 2007 - Belo Horizonte, 14 a 16 de novembro

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Battles na Roxy

(dia 16)

por Braulio Lorentz
(texto e fotos)

Estava lá eu, com a minha melhor cara de ponto de interrogação, quando resolvi usar o pescoço. Ao meu lado estava a nata da nata do underground belohorizontino (ui!) se jogando ao som do Battles, quarteto que trazia na bagagem seu disco de estréia, Mirrored, lançado seis meses antes deste show em BH.

O Battles é uma banda nova-iorquina de post-rock, math rock, indie rock, qualquer coisa rock e na maioria das vezes instrumental (não apenas por isso, os integrantes do Mordeorabo estavam por lá em clima de "ieeeeeei").


John Stanier

Trata-se de um grupo sobretudo estranho, posto que o baterista é a grande estrela. E como BH é cagada de urubu, qual você acha que foi o instrumento que deu pau? A bateria, é claro.

John Stanier, que também segura as baquetas do Helmet e do Tomahawk, está no centro do palco e não está com um semblante dos mais amenos. Parece que ele vai jogar a baqueta na cara do primeiro membro da platéia que parar de dançar. Por causa dos problemas técnicos com seu instrumento, a apresentação do Battles virou um quase pocket show.

Mas em noite de DJs numa boate de playboy, qualquer dose de rock (ainda mais quando bem tocado por uma banda em seu auge) é mais bem vinda do que de costume.

LCD Soundsystem no Chevrolet Hall

(dia 14)

por Rodrigo Ortega

Fotos: Braulio Lorentz

Que o show do LCD Soundsystem é incrível, que os músicos transformam barulhos eletrônicos em um som de banda pulsante, que James Murphy é aquele tipo de pessoa que não decide se é gorda ou forte, mas é defintivamente talentoso e intenso, que cada música é um show completo, como uma coletânea de curtas-metragens, que fazem sentido sozinhas e junto dos outras, nada disso é novidade.

Isso explica os aplausos e elogios gerais ao show, mas não o clima de satisfação com ressalvas no Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, que durou desde as primeiras batidas de "Us v Them" até a apoteótica "New York I love you, but you're bringing me down". Aí entra em cena o talento mineiro para falar mal das coisas, especialmente dentro do seu objeto preferido de reclamação, o Chevrolet Hall. Como numa mesa de bar, as lamentações começam pelos motivos mais práticos e terminam pelos mais bêbados.


James Murphy

A questão mais óbvia é porque diabos eles continuam chamando aquele local de casa de shows só porque tem um palco e um espaço para as pessoas em frente. Da metade da platéia para trás, o som dos instrumentos embolam entre si e com os ecos deles próprios. O clima é totalmente de ginásio esportivo improvisado para um show. Culpa da falta de "casas médias", problema que seria discutido no debate promovido pelo festival um dia depois

Agora que já passamos das primeiras cervejas, podemos falar do quanto a vida é injusta e o mundo cruel. O fato de o Chevrolet Hall não ser bom o suficiente para o LCD Soundsystem em termos qualitativos não é tão triste quanto o fato de o LCD Soundsystem não ser bom o suficiente para o Chevrolet Hall em termos quantitativos. É difícil entender porque "Daft Punk is playing in my house" e o sensacional Sound of Silver não enchem um Mineirão. E James Murphy nem fica satisfeito com as boas composições: ele parece inquieto, mexe os pés, grita, fecha os olhos, como se tivesse acabado de criar a música ali no palco.

Se retirássemos da casa semi-cheia as pessoas que foram só "pela balada" (ou pela "festa rave", como definiu o segurança na porta), ela ficaria de semi-vazia pra baixo. Exceto em momentos mais animados como "Tribulations", com um arranjo mais "disco" e menos "punk" que as outras, dava vontade de encarnar a tia bêbada de festa de família e balançar os ombros de cada uma das pessoas que estavam ali "pra ver de colé". Talvez fosse questão de esquecer o talento mineiro de reclamar e me concentrar no talento de James Murphy de aquecer batidas frias. Mas até as reclamações ecoam alto demais no Chevrolet Hall.

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