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The Piano

PJ Harvey – 16 de novembro, Grand Rex - Paris

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por Alfredo Brant

Fotos: Divulgação

É curioso observar o fenômeno que ocorre na carreira de cantoras como Cat Power e PJ Harvey. Se nos anos 90 elas faziam parte do meio indie e eram rotuladas como “alternativasâ€, hoje seria mais apropriado colocá-las numa categoria à parte: receberam o título de “novas divas†e possuem um público fiel que paga caro para assistir a seus shows em belos teatros parisienses.

A apresentação de PJ Harvey no último dia 16 de novembro, no Grand Rex, tradicional casa de espetáculos de Paris, serviria como uma luva para confirmar minha teoria. Os ingressos (o mais barato a 52 Euros) davam direito a lugares marcados, para onde éramos devidamente conduzidos por hotesses que nos lembravam que sua única forma de remuneração eram as gorjetas.

A expectativa era de assistir a um espetáculo monumental, conduzido por uma grande musa e por seu time de excelentes músicos que tocariam num palco grandiosamente decorado. Mas não foi nada disso que se viu.


PJ no Gran Rex

O palco era simples e mal iluminado. Não havia outros músicos. Em algumas canções, uma bateria programada entrava sem pudor nenhum. Tinha um velho piano do lado esquerdo, algumas guitarras espalhadas e não muito mais... Mas havia uma diva: Poly Jean Harvey.

Quando se sentou ao piano para sussurrar as aterradoras canções de White Chalk, a impressão era que ela estava no limite de tudo: de sua voz, de sua capacidade técnica para tocar e no seu limite emocional. Não deve ser fácil. Não deve ser fácil também se levantar dali, sob os aplausos do público, e pegar uma guitarra monstruosamente distorcida para começar a gritar nas músicas “Snake†ou “Man Sizeâ€. PJ não está somente nos limites, mas também nos extremos.

As canções dos primeiros discos continuam frescas e irônicas, mesmo se o estilo não é mais o da “femme fataleâ€, dominadora e sexy. Agora ela está sem maquiagem, num vestido sóbrio, cantando melodias bucólicas como “White Chalk†ou descrevendo sonhos mal assombrados como em “The Devilâ€.

O final não é apoteótico, mas é terrivelmente belo. Na primeira canção do bis, ela pega pela primeira vez um violão e toca “The desesperate kingdom of loveâ€, pérola escondida de “Uh uh Herâ€, seu penúltimo disco de estúdio. A estranha sensação de fragilidade e grandeza me faz pensar em alguma diva do jazz cantando um de seus standarts para uma platéia hipnotizada.

E para provar que nada estava previsto naquela noite, ela ainda voltou para um segundo bis e entregou a enigmática “horse in my dreamâ€. Não faltou nada, nada foi em excesso: um show irrepreensível. Faltam apenas adjetivos para terminar esse texto.

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