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Sonic Youth

Hits são para os caretas?

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por Rodrigo Ortega

Fotos: Divulgação / Goodbye, 20th Century

O que os nova-iorquinos do Sonic Youth fizeram com o rock há duas décadas é mais ou menos o que um menino pequeno, daqueles curiosos e bagunceiros, faz com um brinquedo depois de se entediar com ele: quebrou, abriu suas peças, despedaçou umas partes, montou de outro jeito até começar a se divertir de novo. Muita gente é fã dessa bagunça. O Beck, os caras do Radiohead, o Eddie Vedder, a Michelle Williams, o Gus Van Sant e o Flea são alguns dos artistas que escolheram as faixas da nova coletânea Hits are for Squares, da Starbucks Enterteinment (sim, o novo selo da famosa rede de cafeterias), com direito a uma música inédita, "Slow Revolution".

Como seria uma edição brasileira de Hits are for Squares? O Pílula Pop reuniu músicos e jornalistas daqui que são fãs da banda para escolher suas faixas preferidas do Sonic Youth. Confira as escolhas e histórias de cada um, ouça as músicas e veja as listas brasileira e gringa no final. As fotos que ilustram esta matéria são da primeira biografia oficial da banda, "Goodbye, 20th Century", também lançada recentemente.


Os sonicyouths no estúdio, em 1988 (foto: Nick Sansano)

"Sugar Kane" – Alexandre Matias (Trabalho Sujo)

"Maldita escolha salomônica, que, mais uma vez, me obriga a ser passional. Na hora em que o Rodrigo cogitou escolher uma única música do Sonic Youth, três me vieram à cabeça - "Total Trash", uma música que explica parte da banda, no meio de seu disco mais mitológico, Daydream Nation (1988) ; "Skip Tracer", que talvez seja a conexão definitiva entre a literatura beat e o rock alternativo dos EUA, no meio de seu disco mais experimental, Washing Machine (1995); e "Sugar Kane", que explica a outra parte da banda, no meio de seu disco mais pop, Dirty (1992). Escolhi a última por motivos sentimentais e didáticos: o riff torto e agudo que abre a faixa é uma machadada pixieana que torna o boogie fuzz que conduz a música quase alien, quando ele aparece da primeira vez. Quando Thruston entra com o vocal mascado, babando o açucarismo dos irmãos Reid mas com um twist (sem o K do filme de Orson Welles, é a nossa cana-de-açúcar), estamos andando em uma Nova York que ainda via o rock como um filho mimado - e não como um de seus principais herdeiros. A faixa ainda abre espaço para uma jam noise exemplar do potencial do Sonic Youth, sua versão grupal para o solo de guitarra, num de seus momentos mais clássicos nesse sentido. "Sugar Kane" é nota 10.

"Shadow of a Doubt" - Jair Naves (Ludovic)

"É dificílimo escolher uma só música do Sonic Youth, mas já que a proposta é essa, eu fico com "Shadow of a Doubt", do Evol (1986). Apesar de ser uma das minhas preferidas do disco e entre todas as que a Kim Gordon canta na discografia da banda, me lembro de ter achado meio bobo na primeira vez que ouvi, por essa coisa de fazer referência direta a dois filmes do Hitchcock, de um filme servir pro título e de outro pra letra. Depois de um tempo deixei a birra de lado e hoje em dia virou uma das que eu mais gosto. O clipe também é sensacional, uma montagem tosquíssima dela em cima de um trem. Tudo nessa música é perfeito: a cadência, os timbres de guitarra, o jeito que ela canta. Como acredito que ninguém mais vai escolher essa música, taí."

Ps: "Putz, eu tava errado, a Michelle Willians escolheu a mesma música. Só porque eu falei, hahaha".


Os sonicyouths na cozinha, em 1992 (foto: Richard Kern)

"Empty Page" - Marcelo Costa (Scream & Yell)

"É uma canção leve, com algo de Byrds e Velvet, que traz umas viradas guitarreiras no meio, mas não estende as viagens como em outros discos ou mesmo canções de Murray Street (2002). É o tipo de canção que pode confundir os desavidados, gente que só conhece o lado noise do Sonic Youth."

"Unmade Bed" - Bruno Miari (Monno)

"Comprei meu primeiro disco do Sonic Youth com 13 anos. Foi um choque e ainda não estava preparado pra eles. Aquele conjunto vigoroso de texturas, sujeira e beleza só me pegou de rebate quando mais velho. Daí não teve volta! É, com certeza, uma das 5 bandas do coração. Por isso, além da vasta discografia genial, é dificil pinçar uma única escolha. Eu mesmo tenho uma coletania própria deles! Bem, a minha escolhida foi a "Unmade Bed" do belo e atual Sonic Nurse (2004). Essa musica mostra o quanto os Youths podem ser sutis e belos, marcando com muita elegância o melhor do lo-fi. Melodia gentil, um clima cool de uma festinha moderna, bela letra do Moore e a aula do que um quarteto pode fazer com baixo, guitarras e bateria. Sem mais, vou escutá-la de novo agora."


Courtney Love e Kim Gordon, em 1991 (foto: David Markey)

"The Diamond Sea" - Bruno Dias (Urbanaque)

"Confesso que o primeiro álbum que eu ouvi do Sonic Youth foi o Washing Machine (1995), e a partir dele uma nova perspectiva se abriu na música pra mim. Lembro de ver o clipe de "The Diamond Sea" no Lado B (finado programa da MTV Brasil) e viajar junto. Mas sempre gostei de colocá-la bem alta, nos fones de ouvido, e me deixar levar naquelas ondas de guitarras e barulhos."

"Or" – Gustavo Martins (Ecos Falsos)

"Tenho receio de soar muito café-com-leite com essa escolha, mas a música que eu gostaria de ver numa coletânea do Sonic Youth é "Or", do Rather Ripped (2006). Não me entendam mal, os trabalhos antigos deles são fantásticos, mas essa música é a que eu mais gosto de ouvir atualmente. Tem todas as coisas que eu aprecio neles: a melodia sutil, uma base que é praticamente um riff só, ruidinhos, mas o que destaca é a letra, uma paródia de clichês do rock que no final se transforma, com a interpretação genial do Thurston Moore, em uma questão altamente filosófica. Aquele finalzinho é fantástico, escutem!"


Kim Gordon faz até Kurt Cobain sorrir (foto: Thurston Moore)

"100%" - Pitty

"Difícil escolher uma só, então vou fazer uma escolha bem passional. O disco que eu mais escutei do Sonic Youth foi o Dirty (1992), lá nos idos anos 90. E eu colocaria "100%", a primeira música desse disco, que pra mim marcou época e é uma puta música. Eu achava (e acho) absolutamente genial o fato do riff da guitarra, na estrofe, ser feita em grande parte de microfonias e barulhos esquisitos."

"Silver Rocket" – Gabriel Thomaz (Autoramas)

"Minha escolha é "Silver Rocket", faixa do disco Daydream Nation (1988), que foi a primeira música e também o primeiro clipe que vi do Sonic Youth. Nunca me esquecerei daquela barulheira que entrava no meio da música e depois voltava tudo de novo..."

"Bull in the Heather" – Taís Oliveira (Tênis e Pílula Pop)

""Bull in the Heather" foi a música que me fez gostar de Sonic Youth, talvez tenha sido a primeira que ouvi deles. De longe é minha favorita, a primeira e única que me veio à cabeça. Quando ouvi a primeira vez, fiquei encantada. Não achei nada esquisito, nem experimental, para mim era tudo muito natural. Nem aqueles barulhos me assustaram. É lindo ouvir a Kim Gordon cantando – ou declamando – daquele jeito, se entregando, dando tudo de si, parecendo que o ar vai acabar. Para chegar no refrão e falar como uma criancinha. E aí vem aquela bateria fantástica, com aquele chocalho, Steve Shelley arrasa como sempre. Nem precisa falar das guitarras, né?"


Kim Gordon, Michael Stipe e William Burroughs (foto: Lee Ranaldo)

"Teenage Riot" – Andrio (Superguidis) e Rodrigo Lariú (Midsummer Madness)

Andrio: "Tem um dos riffs mais apaixonantes da extensa obra do Sonic Youth. "Spiral Arco-Ãris", canção da banda de que faço parte, foi totalmente inspirada nesse hino youthiano (obviamente, não chega nem à unha encravada de Thurston Moore). A batera nervosa, a conversa entre guitarras, a voz desleixada de Thurston... É um som perfeito para ficar se jogando, de um lado para outro, no maior estilo slacker!" (Andrio)

Lariú: "É uma escolha muito difícil. O Sonic Youth tem pelo menos 3 discos antológicos para mim: Daydream Nation (1988), Goo (1990) e Sister (1987). Deste último eu ainda ficaria na dúvida entre "Schizophrenia" ou "Catholic Block"; do Goo, várias são clássicas, apesar deste ser considerado um dos discos mais pops de uma banda que não tem nada de pop. Então, fico com "Teenage Riot", música que abre o Daydream Nation e que também iniciou meus trabalhos com Sonic Youth. Foi com este disco que eu começei a correr atrás do resto da discografia da banda, ainda em 1989. No ano seguinte, quando a MTV Brasil entrou no ar, esta música era um dos pouquíssimos clipes "muito legais" (os outros eram só legais) que passavam na emissora. E o clipe é excelente, com imagens clássicas da história do rock alternativo."

"Mote" – Marcelo Santiago (Fórceps)

""Mote", do álbum Goo (1990), sintetiza tudo o que a crítica normalmente escreve sobre o Sonic Youth (ruídos, orquestra de guitarras, letras bem trabalhadas) e serve como uma excelente forma de introdução ao trabalho da banda. Animada como poucas canções do Sonic Youth, "Mote" também se destaca pelo vocal melódico de Lee Ranaldo, uma espécie de contraponto aos vocais "falados" de Thurton Moore e Kim Gordon."

A lista brasileira:

por Rodrigo Ortega

Fotos:

Sonic Youth

"Sugar Kane" – Alexandre Matias (Trabalho Sujo)

"Shadow of a Doubt" - Jair Naves (Ludovic)

"Empty Page" - Marcelo Costa (Scream & Yell)

"Unmade Bed" - Bruno Miari (Monno)

"The Diamond Sea" - Bruno Dias (Urbanaque)

"100%" - Pitty

"Or" – Gustavo Martins (Ecos Falsos)

"Silver Rocket" – Gabriel Thomaz (Autoramas)

"Bull in the Heather" – Taís Oliveira (Tênis e Pílula Pop)"Teenage Riot" – Andrio (Superguidis) e Rodrigo Lariú (Midsummer Madness)

"Mote" – Marcelo Santiago (Fórceps)

A lista gringa:

por Rodrigo Ortega

Fotos:

"Bull in the Heather" (Catherine Keener)

"Sugar Kane" (Beck)

"100%" (Mike D)

"Kool Thing" (Radiohead)

"Disappearer" (Portia De Rossi)

"Superstar" (Diablo Cody)

"Stones" (Allison Anders)

"Tuff Gnarl" (Dave Eggers and Mike Watt)

"Teenage Riot" (Eddie Vedder)

"Shadow of a Doubt" (Michelle Williams)

"Rain on Tin" (Flea)

"Tom Violence" (Gus Van Sant)

"Mary-Christ" (David Cross)

"World Looks Red" (Chloë Sevigny)

"Expressway to Yr Skull" (Flaming Lips)

"Slow Revolution" (inédita)

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