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No Ar Coquetel Molotov 2008

por Rodrigo Édipo e Madá Maciel

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O Festival No Ar Coquetel Molotov aconteceu na sexta, 19, e sábado, 20, no Teatro da UFPE em Recife. O Pílula Pop estava lá para conferir nomes como Shout Out Louds, Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Peter Bjorn & John. Mais uma vez o público compareceu em grande número e legitimou de uma vez por todas o festival como um evento de massa. Há dois anos já é o principal evento de música da cidade. Uma certa abertura proposital para outros gêneros e nichos de público está acontecendo desde o ano passado, coisa que era inimaginável há três anos. Não sei se isso vai ser salutar em um futuro mais próximo, pois a perda da identidade é o primeiro passo para um futuro fracasso. Vide o "ex-festival" em atividade Abril pro Rock. Seguem abaixo as atrações principais e um breve comentário sobre cada uma delas.

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Shout Out Louds

Primeiro Dia

Júlia Says
A banda Júlia Says invadiu o No Ar do ano passado e fez uma auto-divulgação tímida, mas muito interessante. Além de panfletos, os dois integrantes usavam camisas com o endereço do Myspace da banda e circulavam por palestras e pelo hypado hall na frente do teatro. O Julia Says é formada só por duas pessoas: Pauliño (vocais e efeitos) e Anthony Diego (bateria). Depois de mais um ano de divulgação inteligente, festivais e destaques em periódicos como a Rolling Stone, os caras conseguiram um espaço na nova safra das bandas de Recife e terminaram por abrir a primeira noite do Coquetel Molotov. O show foi tímido, não foi arrasa quarteirão - também pudera, a banda é muito nova. Tocar em um festival que preza pela qualidade e – cada vez mais – tem como característica um público muito partidário de certas bandas e violento com outras não é simples. Fizeram uma apresentação equilibrada, mas provaram por a + b que a banda tem um potencial para experimentar coisas muito boas em um futuro próximo. A música é livre e tem espaço pra escoar em várias vertentes. "Mohammed Sak Sak" é uma grande canção e lembra muitos os alagoanos do Sonic Jr., conduto com viés mais pop radiofônico. Parafraseando meu amigo Bruno Nogueira sobre a banda: ainda falta alguma coisa, mas eu não sei o que é.

Cidadão Instigado
Fernando Catatau e sua banda caíram de pára-quedas no festival. Beneficiados aos 48 minutos do segundo tempo pelo imbróglio malsucedido entre Coquetel Molotov e produção da banda cuiabana Vanguart, que culminou no cancelamento dos Vangs no festival, os cearenses fizeram um show redondo, caótico (no bom sentido) e baseado no ótimo Método Tufo de Experiências. A platéia ficou um pouco dividida, visto que a presença da banda representava a ausência da Vanguart. A opção Cidadão Instigado não foi das melhores. Mesmo sendo uma banda criativa ao extremo e de qualidade indiscutível, o fato de o grupo ter um repertório datado (o último disco é de 2005) fez o festival perder um pouco do conceito que faz questão de reafirmar, que é de apresentar novidades e bandas que estão na crista do hype. Mas valeu, não deve ser fácil reposicionar um line up de última hora da maneira que foi.

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Catatau

Obs: Com a intenção de fazer uma ponte entre Vanguart e fãs, conversei rapidamente por MSN com o vocalista Hélio Flandres (cantor e compositor da banda). Ele usou a expressão "balde de água congelante" e admitiu que chegou a ficar literalmente doente com o acontecido. Procurando enterrar o assunto de uma vez por todas, Hélio só se preocupou mesmo em mandar um recado pros fãs. "Fiquei muito sentido pelo público, é desrespeitoso com eles que não têm nada a ver com isso", declarou o músico, para logo após afirmar "Estava ansioso com o show, feliz pra cacete em voltar ao Nordeste". Nas comunidades do Orkut do Coquetel Molotov e do Vanguart, você pode ler as notas oficias de cada um sobre o acontecido.

Shout Out Louds
Esta foi a primeira banda da Invasão Sueca a tocar no festival desse ano. A organização do Coquetel trouxe também da terra fria a Club 8 (da gata Karolina Komstedt) e os incensados Peter Bjorn & John. A Shout Out Louds foi a primeira atração a fazer o público se levantar das cadeiras. Normalmente no festival as bandas gringas é que conseguem essa proeza. Não sei ao certo o motivo, mas tenho certeza de que não é porque elas são as melhores. A Shout Out Louds faz um som com a estética oitentista que lembra muito, mas muito mesmo, o The Cure. Isso me deu um grande abuso (nota do editor: que saudade de Recife), apesar de ter funcionado bastante para muita gente que ficou enlouquecida com a apresentação. Sem mais delongas, show descartável.

Marcelo Camelo
Era nítido que a expectativa para o show de estréia solo de Camelo foi misturada com a nostalgia pós-Los Hermanos (a banda anunciou pausa nas atividades por tempo indeterminado). As comparações e lembranças eram inevitáveis. "Espero que seja tão bom quanto Los Hermanos. Estou ansiosa para ver como é", admitiu uma amiga, para logo após confessar: "Tenho medo de me decepcionar". Decepção nesse caso é quase improvável, visto a representatividade de Camelo na vida de muitos que ali estavam, inclusive para outros artistas. "Eu gosto muito de Marcelo, tenho noção mais ou menos de como vai ser o show pelo que ele é. Tô curioso", falou Fernando Catatau (Cidadão Instigado). O show foi impecável. O público recifense tinha o repertório na ponta da língua e Marcelo Camelo teve a oportunidade de sacar mais ou menos o quanto seu disco está sendo bem aceito.

O cantor e compositor estava muito à vontade e elogiou Recife diversas vezes. "Não dá pra começar nada não sendo por aqui, que seja com pé direito essa nossa digressão", se referindo a sorte que a cidade sempre trouxe para ele e o Los Hermanos. Destaques para as músicas: "Doce Solidão"; "Téo e a gaivota" e "Janta" (em dueto emocionado com a cantora adolescente Mallu Magalhães). O show ainda teve espaço pra relembrar o Los Hermanos com as faixas "Pois É", "Dois Barcos" e "Morena" (também com Mallu). O público sentiu na pele o peso da apresentação e o momento histórico que ela representou. "Eu queria deixar claro que depois de Chico (Buarque) e Caetano, apareceu Camelo. Tudo com C", brinca extasiado o produtor cultural Sérgio Leão em momento de fascínio pós-show. Exagero ou não, a verdade é que Marcelo Camelo confirma em sua primeira experiência solo o status de ídolo e assegura – por pelo menos mais alguns anos - o papel de porta-voz de uma geração.


Camelo e Mallu (do youtube.com/l7slap)

Segundo Dia

Catarina
Da pickup de vinil das festinhas em Olinda ao palco do teatro da UFPE em um festival conhecido como indie. Ninguém entendeu muito a trajetória da DJ Catarina nesse pouco tempo de carreira. O que importa é que ela estava lá com seu way of life descompromissado, pero no mucho. Jogada na cova dos leões depois de debates acalorados sobre valor artístico e curso superior (!) em um blog local, Catarina estava ali para provar que sabe muito bem o que está fazendo (mesmo tendo suas dúvidas).

Acompanhada de uma boa banda – a mesma galera que está produzindo seu disco – a cantora e compositora animou a platéia de forma epiléptica. O show foi dividido em momentos de pura monotonia e outros de extrema comédia. Ainda experimentando o público, os hits "Cai Fora" e 'Toca te Dentro" tiveram uma recepção um pouco tímida, porém algumas risadas já podiam ser ouvidas. Catarina tem uma proposta artística debochada e tem no "neo-brega" uma grande arma de popularização do seu som. A fórmula de trazer a música do subúrbio para dialogar com um punhado de jovens classe média que andam de ônibus e conhecem todo esse terreno na palma da mão (mesmo detestando admitir o seu valor) é fatal e dá muito certo. Seu show ainda teve um cover muito bem resolvido da música "Sensual Seduction", do Snoop Dog, com a presença do parceiro Jr. Black. Ainda não se sabe ao certo onde Catarina pode chegar, porém a proposta de provocar e tirar sarro com a platéia é um caminho muito difícil de ser seguido. Soltando-se mais [muito mais] e indo até as últimas, ela pode se dar muito bem.

Final Fantasy
Owen Pallett é o canadense que está por trás da banda com nome de jogo. Ele também é conhecido por ter feito parte como violinista da excelente e fúnebre banda Arcade Fire e acompanhado artistas como Grizzily Bear, Beirut e Björk. Ou seja, mais uma vez o Coquetel Molotov teve o privilégio de trazer um show gringo inédito e de alto nível. Com um portfólio desse, Pallet já estava com o jogo quase ganho, contudo era preciso entrar no palco e mostrar serviço ao vivo. Pois bem, além de ganhar o jogo ele deu de goleada nas outras atrações do festival no dia. A platéia ficou encantada com a qualidade do artista e os acordes delicados do seu violino. Owen Pallet foi a grande revelação do festival esse ano. O show tem um formato simples, me pareceu que ele toca seu violino em bases pré-gravadas, porém isso não perde a poesia do seu instrumento diluído nas texturas eletrônicas. O músico foi aplaudido de pé. Provavelmente algum fã desavisado de Mallu Magalhães saiu do teatro com uma pulga atrás da orelha repensando seu gosto musical, digamos: um pouco teenager.

Mallu Magalhães
A Mallu é uma graça, a Mallu é uma fofa, a Mallu é um anjo, a Mallu é um sonho colorido de criança com marshmallow cor-de-rosa. Isso meio que já encheu a paciência, né verdade? De fato a garota é diferenciada, tem umas tiradas muito boas e é inteligente [não tanto quanto dizem, até por que ela já tem 16 anos, não 7]. Mas as pessoas precisam se preocupar em olhar a obra dela de forma mais crítica. O que eu vejo é uma adolescente que optou por um estilo musical que não estava em voga há muito tempo, levantou a bandeira e foi posicionada pela indústria como um novo mártir do gênero. A imprensa logicamente abraçou-a, pois ela é um bom produto pra ser vendido pelos motivos citados na primeira linha do texto. A real é que Mallu ainda é super verde [bom lembrar que é comum para a idade que tem], suas músicas são bem feijão-com-arroz e sua voz não segura a onda de um público enorme e barulhento.

O show foi levado em uma toada mediana e cuidadosa ao extremo. Destaques para a música "Janta" que tocou em dueto com seu novo padrinho Marcelo Camelo, e os hits "J1" e "Tchubaruba". Logicamente a menina tem um talento para ser desenvolvido e faz parte de um séqüito muito pequeno de jovens que não se rendem cegamente a axé music e subgêneros - isso pra mim já é uma grande coisa. Portanto, muita calma nessa hora, não vamos misturar as coisas. Excesso de fofura é uma coisa, genialidade é outra completamente diferente. Folk por folk, o Vanguart está a anos-luz [sem querer provocar a produção do evento, por favor] e cá pra nós, um dueto de Hélio Flanders com Camelo não ia ser nada mal. Ah sim, o público adorou o show e chorou - ou seja a menina é mesmo um fenômeno, fazer o quê?

Peter Bjorn & John
Vendido como o show mais esperado da edição do festival, os suecos não decepcionaram seus fãs, que ainda não enjoaram da música "Young Folks". Assobios à parte, PB&J não apresentam muita novidade em termos de som. A competência deles é indiscutível, o som tem uma pegada rock bem mais forte ao vivo, que faz esquecer um pouco do clichê indie açucarado que no final desse ano de 2008 já vai nitidamente perdendo seu fôlego. O revival do grunge dos anos 90 está chegando e para os indies que dominaram todo os anos 00 só resta esperar duas décadas para voltar a ser hype, agora em seu momento próprio de revival. Particularmente não curti muito o show da banda, não faz minha cabeça e me fez pensar o quanto a gente valoriza bandas de fora sem nem mesmo vê-las tocando ao vivo. Somos escravos do hype sem nem perceber. Compreendendo isso é que vemos o quão injustos somos com alguns artistas geniais daqui do Brasil e também da América Latina que poderiam estar muito bem fechando a noite de um festival do porte do Coquetel Molotov.

Eles também sabem ser roqueiros (do youtube.com/alcohoholidayz)

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