Lembra da propaganda de Natal que passava na TV no inÃcio dos anos 90, com um coral cantando uma música bonitinha e os meninos se olhando como se faltasse alguém; paralelamente, havia outro menino correndo de bicicleta pra dar tempo e no final ele chegava, enquanto os outros entoavam “Bom natal, um feliz natal, muito amor e paz pra você†e cantava: “Pra você...â€. Era lindo e sempre que eu me lembro dos natais da minha infância, me recordo dessa vinheta.
Bons filmes de natal são assim: leves, simples (bobinhos, à s vezes), mas marcantes. A forma consagrada pelo cinema norte-americano é um clichê de cenas edificantes, criancinhas sofridas em busca do natal feliz, incentivo ao consumismo, afirmação de valores familiares. O paradigma dessa exaltação é, certamente, “Felicidade não se compraâ€, de Frank Capra, de 1947. Protagonizado por James Stewart (um antepassado de Tom Hanks, eternizado por seus filmes com Hitchcock), tratava-se de um homem que dedicou a vida a ajudar os habitantes de sua pequena cidade, mas em determinado natal ele se encontra falido, abandonado e prestes a se suicidar. Um anjo aparece e lhe mostra como a cidade seria horrÃvel sem sua presença ali.
O filme foi um fracasso na época do lançamento, mas ao expirarem os direitos autorais, a TV norte-americana passou a exibi-lo todos os natais, sem pagar royalties, e o público consagrou-o como um clássico atemporal – até hoje ele é reprisado em vários canais dos EUA todo final de ano. Nicolas Cage fez um filho descarado dessa linha em “Um homem de famÃliaâ€, filme caretão, mas bonitinho.

Billy Bob Thorton: Papai Noel mau igual pica-pau
O natal também foi vÃtima de uma série de comédias pastelão, principalmente a partir da década de 80, com astros como Chevy Chase e filmes como “Férias frustradas de natalâ€. Provavelmente, o representante mais bem sucedido dessa linhagem seja “Esqueceram de mimâ€, sobre uma famÃlia que viaja no natal e esquece o filho mais novo em casa. O filme catapultou Macaulay Culkin para o mundo, prevendo na ficção que o garoto não tinha progenitores muito legais. No ano passado, um descendente do natal pastelão, “Um duende em Nova Yorkâ€, fez mais de US$ 100 milhões nos EUA e elevou a astro Will Ferrell, do Saturday Night Live. Presente de grego, e não de Papai Noel.
Filmes de natal nem sempre são bons. Até Schwarzenegger já se aventurou na área e não tem lembranças boas de “Um herói de brinquedoâ€, fracasso em todos os sentidos. No Brasil, ainda somos fracos no campo já que, em um paÃs prioritariamente católico, natal é tempo de ir à Igreja e não ao cinema. Fim de ano pra nós significa filme da Xuxa ou do Didi – não necessariamente ligado à época – ou, no máximo, Padre Marcelo Rossi contando a história do menino de Belém.
Quem também faz bastante sucesso na época do bom velhinho são as animações. Afinal, até os Flintstones têm natal (!?) e, todo ano, as crianças não cansam de ver os episódios especiais de festas de seus desenhos prediletos. Uma das primeiras animações natalinas foi “Rudolph, a rena do nariz vermelhoâ€, de 1964, baseado num clássico infantil. Literatura, aliás, é prato cheio para o cinema natalino: Jim Carrey fez caretas e muito dinheiro por trás da maquiagem de “O Grinchâ€, livro infantil do autor americano Dr. Seuss, famosÃssimo nos EUA.
“O Expresso Polarâ€, lançado recentemente, vale pelas duas categorias: é adaptação de um best-seller natalino de Chris Van Allsburg e animação que promete efeitos digitais de primeira. “Um natal muito, muito loucoâ€, que está em cartaz, deixa vivo o jeito pastelão do humor norte-americano de comemorar as festas. “Papai Noel à s avessas†promete satisfazer a sede de sarcasmo e ironia de todos os que odeiam o Natal e a foto do tal papai noel ilustra a nossa overdose natalina. E não se esqueça: ver "Os IncrÃveis" levando os pirralhos como desculpa é picaretagem. Não seja mau, prestigie os filmes natalinos: as crianças, o bom velhinho e o menino lá de Belém agradecem.
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Expresso Polar
Um Natal muito, muito louco
Nota do Editor: Avisamos que não cobrimos o filme “Sobrevivendo ao natalâ€, porque o medicamento Ben Affleck foi indefinidamente suspenso pela Anvica (Agência Nacional de Vigilância Cultural e ArtÃstica), pela baixa eficácia apresentada.