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Pilulista: Melhores filmes de 2008

por Daniel Oliveira

Fotos: Divulgação

“Gosto é que nem braço. Infelizmente, tem gente que não temâ€. Essa frase, comentada pelo grande filósofo Cláudio neste texto do Bruno Medina no G1, é provavelmente a coisa mais genial que eu li em 2008. Não sei se já existia antes, ou se e de autoria dele, mas o fato é que ela é cruelmente verdadeira.

Existe um monte de gente que não tem gosto. Simples assim. E é porque contamos com várias pessoas de (muito) bom gosto colaborando para o Pílula Pop que seguimos com nossa mesopotâmica missão de levar esse trabalho a vocês, leitores. Que, por sua vez, têm o seu próprio gosto, discutindo, brigando e completando o que a gente faz. Acredite: a equipe do Pílula adoooora isso.

E é essa mesma equipe que votou na lista abaixo. Os 10 melhores filmes de 2008. Tarefa difícil. No total, foram citados 50 filmes. Uau. Para ninguém dizer que esse foi um ano fraco nos cinemas. Do terror “O nevoeiro†ao documentário “Lokiâ€, passando pelo israelense “A banda†e o psicodélico “Speed racerâ€, longas os mais diversos foram lembrados por nossos colaboradores.

E o top 10 ficou bem justo, acredito. O sistema foi simples: cada colaborador votou em 10 filmes, do primeiro lugar (10 pontos) ao décimo (1 ponto). Em caso de empate, ganhava quem tivesse sido citado mais vezes. E em seguida, aquele com a nota individual mais alta e, depois, com a menos baixa.

Sem mais delongas. Com o agradecimento a todos que votaram, você confere abaixo os 10 melhores filmes que passaram pelos cinemas belorizontinos de 1º de janeiro a 13 de dezembro. Ah! E no final, o link com a lista de cada um dos 15 membros da Academia Pílula Pop de Artes e Popices Cinematográficas.


10º Desejo e reparação (Atonement, dir. Joe Wright)


“Foi ele. Eu sei. Eu vi. Com meus próprios olhos.â€

Uma mentira, que gerou um livro, que virou um filme. Que foi conferido por nossos próprios olhos – cheios de lágrimas. O romance metalingüístico de Ian McEwan foi adaptado com fidelidade e objetividade pelo diretor inglês Joe Wright e entrou na lista de cinco dos nossos votantes. Empatou em pontos com o nono lugar, mas acabou perdendo em número de citações. Pouco importa, já que seu lugar neste top 10, assim como nos corações românticos que se emocionaram com o filme (tendo lido o livro ou não), está mais que garantido.


9º Linha de passe (dir. Daniela Thomas e Walter Salles)


“Anda. Anda. Anda.â€

Um dos finais mais poéticos e autênticos dos últimos anos nos fez sair – andando - do cinema mais brasileiros, mais esperançosos, com menos medo de sonhar. A obra de Walter Salles e Daniela Thomas emocionou Cannes, rendeu o justo prêmio de melhor atriz a Sandra Corveloni e marcou presença na lista de sete colaboradores. Falando de pobreza, mas sem cair no clichê de nove em cada dez filmes nacionais, “Linha de passe†mostrou na tela uma família brasileira tão verdadeira que parecíamos todos conhecê-la, seus cheiros, suas falhas. Merecido nono lugar.


8º Juno (dir. Jason Reitman)


“Eu não sei que tipo de garota eu sou.â€

Do tipo que conquista os corações de milhões de pessoas no mundo todo, vira um sucesso de bilheteria e concorre ao Oscar. Esse é o tipo de garota que “Juno†é, mesmo sem saber. Melhor filme do ano de acordo com (nada menos que) três dos votantes, a grávida interpretada por Ellen Page foi um fenômeno que não podia ficar de fora da nossa lista. E que apresentou ao mundo o Kevin Smith de saias: Diablo Cody. O livro da moça, “Minha vida de stripperâ€, acabou de ser lançado no Brasil. Não perca.


7º Não estou lá (I’m not there, dir. Todd Haynes)


“Eu aceito o caos. Só não sei se ele me aceita.â€

O caos, a gente não sabe, mas nossos colaboradores, com certeza, aceitam. A cinebiografia-desconstrução-análise-invenção de Bob Dylan foi um show de direção, montagem e elenco. E deu frescor e originalidade ao desgastado gênero da biografia musical. Com alguns dos melhores diálogos do ano (Astronauta!), sem falar na deliciosa trilha, Todd Haynes conseguiu a façanha de ser fiel ao seu muso inspirador e, ao mesmo tempo, fazer um espetáculo essencialmente cinematográfico. Tudo que Godard vem, sem sucesso, tentando fazer nos últimos tempos.


6º Sangue negro (There will be blood, dir. Paul Thomas Anderson)


“Eu…bebo…o…seu…milkshake!â€

Quem diria que essa viraria uma frase antológica na história do cinema? Além de referência pop na boca de adolescentes e adultos mundo afora? Beber seu milkshake foi de metáfora petrolífera a paradigma da ganância a piada pop, graças ao tour de force do oscarizado Daniel Day-Lewis, ao talento absurdo do cineasta Paul Thomas Anderson e à trilha kubrickiana do guitarrista do Radiohead, Jonny Greenwood. Outro caso de empate técnico, “Sangue negro†perdeu não só o Oscar, mas também o quinto lugar para o filme abaixo, devido ao número de citações (P.S. pessoal: eu discordo.)


5º Onde os fracos não têm vez (No country for old men, dir. Joel e Ethan Coen)


“Quanto foi o máximo que você já perdeu no cara-ou-coroa?â€

Fato é: quem apostou contra “Onde os fracos não têm vez†nas premiações do início do ano perdeu. E feio. Melhor filme, roteiro, diretor e ator coadjuvante no Oscar, o longa dos irmãos Coen foi quase unanimidade entre críticos e público desde sua estréia no Festival de Cannes em 2007. E os prêmios que recebeu foram não só reconhecimento dos méritos técnicos inegáveis do filme, mas também uma merecida coroação da prolífica e consistente carreira dos irmãos Coen – que, aliás, quase emplacaram uma dobradinha em nosso top 10 (“Queime depois de ler†acabou em 19º lugar).


4º Vicky Cristina Barcelona (dir. Woody Allen)


“En inglês, Maria Elena, en inglês!â€

Sério: quem não saiu do cinema repetindo isso às gargalhadas por, pelo menos, uns 15 dias? Quando Woody Allen é fraco, ele é bom. E quando é forte, ele é antológico. “Vicky Cristina Barcelona†foi, improvavelmente, um dos melhores feel-good movies do ano, com um roteiro tão bem escrito e atuações tão afinadas que os diálogos pareciam surgir espontaneamente, como se os atores encenassem uma peça da vida real ali na tela. Allen conseguiu até mesmo a performance da carreira de Penélope Cruz (superando seus trabalhos almodovarianos), que muito dificilmente perde o Oscar de coadjuvante no ano que vem como a fantástica Maria Elena. De quebra, o diretor nova-iorquino ainda descolou um novo emprego: agente turístico.


3º WALL-E (dir. Andrew Stanton)


“WAaaaaaaaaaaLL-Eeeeeeee!†“EeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeVAaaaaaaaaaa!â€

Era só isso, mais os olhos de cachorro pidão do robozinho pós-apocalíptico e a aparente indiferença de EVA. Pronto. Estávamos fisgados. A obra-prima (e não há quem ouse questionar esse status) da Pixar ousou ser uma animação praticamente muda nos seus 20 minutos iniciais e, ao final deles, crianças e adultos já estavam apaixonados pelo robô mais humano (ou mais que humano) da história do cinema. Emocionante, simples, despretensioso, pertinente e altamente divertido, “WALL-E†deu uma aula de como fazer cinema popular de qualidade. Um filme que Chaplin teria orgulho de ter inspirado e que tem seu lugar mais que merecido no pódio de nossa lista.


2º Batman – O cavaleiro das trevas (The dark knight, dir. Christopher Nolan)


“WHY SO SERIOUS?â€

A frase do ano. Simples assim. Heath Ledger magnetizou olhares e atenção do público desde a sua primeira aparição nos trailers de “O cavaleiro das trevas†e permaneceu assim até o final do ano. Sua atuação como o Coringa é algo para a História – e isso não deve ser creditado à sua morte prematura (e injusta). O show de Ledger é acompanhado por um roteiro inteligente como poucos, cenas de suspense de arrancar as unhas, uma trilha épica e a direção impecável de Christopher Nolan. O resultado? A segunda maior bilheteria da história, críticas invejáveis, um parâmetro para qualquer filme de super-herói. Why so serious? Porque história em quadrinho não é brinquedo de criança. E ainda bem que o cinema percebeu isso.


1º Ensaio sobre a cegueira (Blindness, dir. Fernando Meirelles)


“Dentro de nós, existe algo que não tem nome. Essa coisa é o que nós somos.â€

Dentro de nós, existe algo que não tem nome – e essa coisa é o orgulho de poder dar a nossa medalha de ouro a um diretor brasileiro! Bairristas? Não. O filme de Fernando Meirelles adaptou uma obra dificílima, vencedora do Nobel, para um filme ousado, denso, marcante e diferente de praticamente tudo que já vimos numa tela de cinema. É essa incomparabilidade que José Saramago busca com sua literatura e é o que fez o autor chorar ao assistir ao longa. A cena das mulheres lavando a morta após o estupro é de uma beleza repugnante que sintetiza toda a parábola do escritor português. E é esse paradoxo que conquistou 11 de nossos votantes, mais que qualquer outro longa na lista. “Ensaio sobre a cegueira†tomou a dianteira bem no começo da votação e não saiu de lá até o fim. É o primeiro lugar inquestionável, com boa margem sobre os demais concorrentes. E é um puta filmaço. Até 2009.

Voto-a-voto: veja as listas de cada um

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