Prostrado em frente à televisão, preso entre minha cama e o sofá, curtindo a febre de 40º que me abateu durante o fim de semana, parte da minha profilaxia acabou sendo outra febre: os tributos ininterruptos a Michael Jackson. Porque, se Lester Bangs disse que “nunca concordaremos sobre nada como concordamos sobre Elvisâ€, ele pode ter sido corrigido pelos últimos cinco dias.
Lembro das noites de domingo em frente à TV com clipes de Michael no Fantástico. Assustadores. Diferentes. Longos. Únicos. Se os Beatles inventaram o videoclipe, Michael Jackson fez deles uma arte. Não por acaso, o inÃcio da flutuação de sua sanidade foi indicada no seu último clipe relevante, “Black and white†- quando, no fim da versão integral, ele destruÃa um carro com um bastão de beisebol e virava uma pantera (oi?).
Mas enfim. Agora isso tudo fica para trás. No limbo. Em alguma gaveta que não precisamos abrir. O que interessa agora são a revolução que Michael Jackson representou para a história da música pop e o corpo de trabalho impressionante que ele construiu nos anos 70 e 80. Um conjunto de hits e uma ditadura de costumes, roupas e ritmos que 98% dos músicos não arregimentam em toda uma carreira.
Os fãs podem finalmente sair da negação em que se encontravam e vestir seu luto pela morte de Michael Jackson, o artista – morte ocorrida há mais de 15 anos. Porque, apesar de ter sido outro Ãcone, o Prince, quem mudou seu nome assim como mudava de roupa, foi Michael que sofreu a metamorfose. Foi o rei do pop que deixou de ser o garoto Michael Jackson para se transformar n’O Artista†e, em seguida, em algo que não podÃamos nomear, a não ser com um sÃmbolo impronunciável. Obrigado, Prince, pela ajuda.