(Ainda faltavam alguns anos para que eu conhecesse Kubrick, “O iluminadoâ€, Polanski e “O bebê de Rosemary†na faculdade - e me tornasse, por consequência, um chato esnobe =p. Então me deem um desconto.)
Que filme era aquele? Que ambientação aflitiva, que cidade estranha. Que mundo modorrento, melancólico, sombrio. Não era engraçado. Não era “Pânicoâ€. E me incomodou. Eu tinha medo de gente morta. E do garoto que via gente morta. Eu e milhões de pessoas mundo afora.
(The Sixth sense, EUA, 1999, dir. M. Night Shyamalan. Elenco: Haley Joel Osment, Bruce Willis, Toni Collette, Olivia Williams, Donnie Wahlberg)
por Rodrigo Campanella
Fotos: Divulgação
Era o último ano antes que os 1900 virassem 2000 e o primeiro semestre já tinha acertado as telas grandes e as cabeças adolescentes (e nem tão adolescentes assim) com um imenso milk shake de filosofia apocalÃptica, paranoia moderna e visual sadomasô para as massas. Isso sem contar o renascimento da câmera lenta e de um cinema de ação que valesse a pena. Então, vamos ser sinceros: algo mais de estrondoso poderia acontecer em 1999? Claro que sim.
Deve ter sido na televisão ou em alguma revista, aqueles dispositivos de mÃdia da era dos dinossauros, que quase todos ouviram falar de um suspense novo. Pouco era conhecido sobre a trama, mas o cabelo do Bruce Willis no filme ser parecido com o penteado do Tintin era provavelmente apenas uma coincidência ingrata.
Dentro desse horizonte autoral, toda a carreira de Shyamalan, e especialmente o filme de 1999, devem algo (muito) a Steven Spielberg, referência maior e declarada do cineasta. E devem ainda mais a “Tubarãoâ€, onde o muro que o indiano filmaria por toda a carreira ganhou, dentro da grife Spielberg, sua forma mais sólida e inexplicável. A fronteira entre vivos e mortos de “O Sexto Sentido†e o medo constante daquele excelente garotinho-ator são uma atualização do tubarão-homicida-dos-infernos que parecia mais concreto que a própria realidade.