Quem chega e sente o gosto assim, tão rápido na boca, não imagina o trabalho que dá na cozinha. Um ano depois de sua gravação, o primeiro EP da banda recifense Rádio de Outono aparece fresquinho nas prateleiras, pelo selo Coquetel Molotov. Um pouco por justiça aos cozinheiros e muito por curiosidade de cliente, o PÃlula Pop foi ao Shopping Paço Alfândega, em Recife, no penúltimo dia de 2005, conversar com o casal Jones (o baterista Gleisson e a vocalista Bárbara) sobre as oito músicas do disco e a faixa-multimÃdia.
“O EP é uma coletânea, mostra um pouquinho de cada lado da banda. Existem outras músicas como cada uma das faixasâ€, contou Bárbara. Não resistimos a dar pitacos enquanto, até porque já quebramos o gelo na primeira conversa. As histórias aumentaram a vontade de provar cada recheio (aquela fome que a gente sente mais no ouvido do que na barriga).
“No Arâ€
Gleisson: Na hora de gravar esta vinheta, a gente se acabou de rir. O locutor levou a sério, decorou todas as idéias. Ele perguntava se estava bom e a gente só conseguia fazer um sinal positivo.
Vocês fizeram o texto?
Gleisson: Na verdade foi ele que fez, a gente soltava algumas palavras, tipo “pop'n roll†e ele improvisava.

Bárbara e Gleisson Jones dão suas receitas
“Além da Razãoâ€
Bárbara: Foi a primeira música que todo mundo fez junto no estúdio. Fernando Barreto (baixista anterior da RdO) fez a letra. Ele alterou um pouco a melodia, porque a letra não estava encaixando.
Gleisson: Quando a gente gravou, ela cresceu bastante. A gente quis que o disco soasse com vigor.
Como um churro bem recheado?
Gleisson: (risos) Sim. Quando gravamos a bateria, ficou bem gordona e foi uma unanimidade de que era a melhor música do disco.
“Sabe-Tudoâ€
Bárbara: É a que tem melhor recepção ao vivo.
E quem foi o produtor de Araçá Azul?
Bárbara: (risos) Não teve, foi o próprio Caetano que produziu. Mas só descobrimos isso depois.
Gleisson: Quando fizemos a letra com estas perguntas, foi tão espontâneo que a gente não sabia a resposta de nenhuma. A idéia da letra é justamente de que a gente não precisa saber. Depois fizemos uma “Promoção Sabe Tudo†O cara que ganhou pesquisou qual a latitude do Japão, tudo. Só disse que não sabia “quantos muçulmanos têm em Cabul, porque ninguém sabe tudoâ€. Captou o espÃrito da letra, que é o de que à s vezes a gente sabe um monte de coisa que não serve para nada, mas não sabe como ser uma pessoa melhor.

O Gleisson Jones não sabe tudo
“Lady Básbaraâ€
Gleisson: A composição surgiu de uma vez.
Pois é, queria saber como surgiu esta letra.
Bárbara: Eu gostava de matemática e meu irmão era péssimo.
Gleisson: E hoje em dia ele faz Economia! (risos)
Bárbara: Mas aà eu fui ensinar o meu irmão, e o Gleisson estava com o violão. Estava ensinando a fórmula de Báskara e a música saiu na hora.
“Velha Páginaâ€
Bárbara: A letra desta música é um poema do Olavo Bilac, exceto o refrão. Mas a burocracia foi tão grande que a gente não conseguiu creditar.
Esta música ao vivo é a hora dos isqueiros?
Bárbara: O pessoal acendia, mas a gente não toca mais nos shows. É a música mais antiga do disco.
“Eu Sou o Taoâ€
Bárbara: A música era bem diferente, as pessoas não recebiam tão bem.
E os brinquedos que você usa na gravação, você usa também ao vivo?
Bárbara: Não todos. Perdi alguns em Curitiba. No último show que eu dei um menino de uns oito nove anos me pediu meu apito e eu dei. No festival No Ar, chamamos um amigo para se vestir de palhaço e entrar no palco nesta música. (Para Gleisson) Pode contar isso né?
Gleisson: Pode contar tudo! (risos)

Os brinquedinhos de Bárbara
“Só o Póâ€
Gleisson: Acho que é a música em que menos se sente falta de guitarra no EP, se é que se sente alguma. É massa também porque o disco começa bem pop, pra cima, depois dá uma quebrada, e volta mais agressivo. Na verdade, a gente gravou um EP por falta de dinheiro. A gente tinha repertório para fazer um disco duplo.
Bárbara: O EP é uma coletânea, mostra um pouquinho de cada lado da banda. Existem outras músicas como cada uma das faixas.
O nome da música lembra o pó branco e a coxinha, que foram companhia de vocês durante a gravação, não é?
Bárbara: O pessoal está fazendo alguns projetos para leis de incentivo, e eu pedi para incluir a coxinha no orçamento.
Gleisson: É bom frisar que o pó branco é tapioca. Nós somos uma banda careta! (risos)
“Fimâ€
Gleisson: É a música mais nova, fizemos dois meses antes da gravação.
A fofice da música lembra até a Sandy, não pela qualidade, mas pelo fato de que se ela fosse legal, cantaria músicas como esta...
Gleisson: Eu fico feliz, porque a gente é pop mesmo. Ela é fofa, mas é a letra mais triste. É bem pessoal, fala de um momento difÃcil para Bárbara.
“Espelhos Quebradosâ€
Bárbara: A música faz parte da faixa multimÃdia do EP, que tem também um diário de gravação, o clipe de “Além da Razãoâ€, entre outros. Gravamos esta faixa bem depois, para um CD em homenagem a Ronnie Von que ainda não foi lançado.
A experiência das outras gravações deixou esta mais fácil?
Gleisson: Com certeza, estamos mais tranqüilos e animados para a gravação de um CD completo.