A sensação nesse ano é que o Forumdoc.BH está mais caseiro do que nunca. E saudosista. Como alguém que se vê crescido no espelho e não tem como escapar de se perguntar o que veio por trás daqueles fios que insistem no meio do rosto.
São dez anos completados agora e o tal caseiro não significa cansaço ou falta de abertura – ao contrário, parece coerência. Há dez anos o mesmo grupo, com suas baixas inevitáveis e várias entradas, toca o rumo do festival. Isso está mais do que nunca explÃcito – nos textos do catálogo, nas falas ocasionais antes e depois das sessões, no público.
Se você nunca entrou na Humberto Mauro para uma das sessões do evento, não se acanhe de seguir lendo. E não fique com medo de entrar na próxima sessão. O subtÃtulo é comprido e sério – “10º Festival do Filme Documentário e Etnográfico†– mas não morde. O conteúdo é daqueles que você não vai encontrar no cinema do shopping, e possivelmente em nenhum outro cine comercial da cidade. Mas afinal, o forumdoc.bh existe exatamente para dar vida, tela e acesso a um outro cinema.
Como é dito no catálogo, a razão de ser do festival é a mais honesta: exibir os filmes que se tinha vontade de ver e que, não fossem exibidos pelos próprios donos desse desejo, não seriam mostrados. São, em geral, filmes que apostam numa outra velocidade – em desacelerar o cinema, em apostar na duração de uma imagem e de uma história na tela. Histórias que valem muito mais pelo como se conta do que pelo quê se conta – que ao invés de ensinar, dialogam. E que por isso mesmo se tornam boas histórias, resistentes até ao nosso paladar acostumado a devorar a mesma papa audiovisual a grandessÃssima maior parte do tempo. Vale a viagem.

O Homem-Urso, de Werner Herzog
Dia 23/11 tem: Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles, de Chantal Akerman, Ã s 18:30, sala Humberto Mauro.