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Todas as esquinas são Antônia

Os momentos chave de um debate que nem de longe foi uma ode a um filme ainda não visto

por Rodrigo Campanella

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O cineasta Francisco César Filho, mediador do encontro, anunciou o início do que ele chamou ‘debates inusitados’: filmes que seriam discutidos, no sábado, antes que os próprios fossem exibidos ao público. Logo depois das falas de ‘Antônia’ viriam as de ‘Batismo de Sangue’. E o que ocupou o primeiro debate foi uma discussão, consistente, sobre um filme inédito. Sem necessidade ou lugar para louvações antecipadas e gratuitas.

1 Segredo: alquimia “A química do elenco é a qualidade que salta mais aos olhos e era isso que o público comentava depois da sessão. Mesmo a questão da música, do funk, que surgiu no Rio, hoje é associada lá com a criminalidade, com bandidos. E ‘Antônia’ tira desse lado, traz de volta um outro. Inclusive, a pergunta que se fez no Rio foi: ‘onde fica a violência nesse filme?’†(Rodrigo Fonseca, crítico do jornal ‘O Globo’)

2 Técnica: meia-luz “A Tata (Amaral, diretora do longa) tinha acompanhado o processo do ‘Contra Todos’ (de Roberto Moreira, 2004) onde a gente utilizou o recurso de não entregar o texto para os atores, mas construir junto. Foi um processo muito rico, só algumas informações eram passadas e eles tinham que encontrar no silêncio, no contato com outros atores, o que estava acontecendo. E ela decidiu usar isso no próximo filme, que era o ‘Antônia’â€. (Sérgio Penna, preparador de elenco do longa)

3 Ingrediente: violência ‘Eu acho que a violência está presente no filme, sim. Há dois momentos bem explícitos: quando o menino expulsa o outro do jogo e fica claro que ele é o cara do tráfico, e a hora em que ele enche de porrada os homossexuais. Eu mesmo vivi numa rua, uma subida, onde da minha casa para baixo era o subúrbio de ‘A Grande Família’ e da minha casa para cima era ‘Cidade de Deus’. Acho que ‘Antônia’ está ali para mostrar essa esquina das periferias do Brasilâ€. (Sandra de Sá, a mãe de Preta no longa e na série de tv)


A mesa de Antônia

4 Dose máxima: o Rio Hoje existe a exposição da hiperviolência, que eu acho que funciona como uma catarse para o momento que o Rio de Janeiro vive. Mas o modo como a mídia vem tratando isso, como se o Rio passasse por um descontrole total, complica até mesmo a subjetividade do carioca. E o que ‘Antônia’ traz, essa esquina, essa convivência, é o que não vem sendo discutido em nenhum veículoâ€. (Rodrigo Fonseca)

5 Embalagem: artesanal “A direção de arte foi trabalhada junto com o produtor de locações, procurando os lugares na Vila Brasilândia. O filme foi praticamente produzido ali e 80% do orçamento de arte ficou na Vila, de objetos deles que a gente alugava ou tomava na base da troca de um novo por um velhoâ€. (Rafael Ronconi, diretor de arte)

6 Fórmula: em progresso “A intenção da Tata era construir o filme com os atores, por isso ela não usava um roteiro, mas o que ela chamava de ‘escaleta de ações’. Eu recebia o material filmado a cada dia e já começava a montar. Depois de um descanso no fim das filmagens, sentamos eu e ela e fizemos uma ‘montagem-osso’, que tinha só o essencial para compreender a história, que inicialmente seria centrada só na Preta (Negra Li). A Tata comenta muito sobre como ela reescreveu esse roteiro na montagemâ€. (Idê Lacreta, montadora)

7 Envase: gota em gota “A cumplicidade na tela foi construída pouco a pouco, com elas convivendo, cantando, e a gente dando uma sugestão ou outra. E com o conforto elas começavam a falar e a agir normalmente, cotidianamente, o que rendeu muito para o filmeâ€. (Sérgio Penna)

8 Concentração: estudada “A preparação com atores, especialmente com não-atores, tem de ser feita com muito cuidado, tato, tempo. São seres humanos e podem se quebrar, machucar. E normalmente são pessoas não-acostumadas a criar mundos paralelos, muitas nunca pensaram em fazer arte. Também faço um trabalho de não-preparação, deixando claro que é só uma história, que aquilo é ficçãoâ€. (Sérgio Penna)

9 Vitamina: confiança “Eu não me considero uma não-atriz ou Thaíde como um não-ator. Todos ali são ótimos atores, senão o Penna não teria perdido tempo com a gente. E hoje em dia o tanto de não-cantores que tem por aí é enorme, e não me preocupaâ€. (Sandra de Sá)


E Antônia em cima da mesa

10 Catalisador: delicadeza “Todas as meninas que não foram escolhidas contribuíram muito para o filme com as histórias que elas queriam trazer. O cotidiano, os filhos, as pequenas traições, um lado que elas não encontravam lugar para exibir. E elas se emocionaram ao ver que era um filme delicado, sobre esse lado escondido.

O que o filme fez foi, inclusive, reunir várias periferias, que inclusive ficam muito longe e você não tem dinheiro para conhecer. O mais interessante foi ver essas meninas descobrirem como elas tinham coisas em comumâ€. (Sérgio Penna)




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