A terceira noite do Abril é conhecida tradicionalmente por ser a mais eclética. E neste ano não foi diferente. Música da região, reggae, hip hop e rock estiveram no, em alguns momentos enfadonho, domingo do festival. A maioria das apresentações não chegou a empolgar. Com isso, potencializou ainda mais o pouco carismático e cada vez mais chato e exigente público recifense. Que por sinal, mais uma vez não compareceu em massa.
Começando pelo terceiro palco, houve a apresentação do coletivo de hip hop Êxito d’Rua. Quatro MC’s e um DJ é a formação do grupo que mostrou seu repertório para um pequeno público que chegou logo cedo (18h). Mesmo com problemas no som: “Tá prejudicandoâ€, alertava com uma dose de ironia um dos integrantes, o show foi preciso. Só não foi o melhor do palco 3 por conta da Valentina. A banda que veio de Goiana surpreendeu. Apresentaram o punk rock-surf-music que nos fez esquecer da experiência horripilante que foi ter visto um pouco antes, o show do Canto dos Malditos na Terra do Nunca no palco 2. Porém o vocalista, apesar da voz boa, não combina tanto com o som que a banda faz, é nÃtido que a onda dele é placebiana.
A grande quantidade de apresentações fez com que o público ficasse um pouco disperso. Segurar o ritmo de 18h até 2h não é pra qualquer um. Eu por exemplo, resisti bravamente, porém não foi uma experiência em nada positiva. No palco 2, ainda no inÃcio da maratona, sobe a já citada Canto dos Malditos. Banda baiana de stoner rock estilo Pitty. Porém uma versão bem piorada da conterrânea. “Galera, desculpa aÃ, mas é que eu tô fudidaâ€, alerta a vocalista da banda, prevendo logicamente um fiasco.
Nesse mesmo palco, presenciamos um bom show da vencedora do Festival Microfonia: Monomotores e seu bom e velho roquenroll. A debutante Orquestra Contemporânea de Olinda também foi uma boa revelação do APR. Gilsinho - ex-Bonsucesso Samba Clube - formou um time de craques. O genial baterista Rapha e os não menos competentes Tiné e Marciel Salú deram uma aula de como se faz um bom show. Grata surpresa.

Los Alamos: Argentina 1 X França 0
O mesmo palco abrigou um dos melhores shows do festival. A banda The Playboys mostrou que, pra prender atenção do público, basta uma apresentação diferenciada. Vale lembrar que os caras são o motivo de inspiração para a criação do palco 3, muito por causa da criação hit “Paulo André Não me Ouveâ€. Com sacadas muito boas sobre o cotidiano recifense e seus clichês, a banda foi providencial para mudar o humor do público. The Playboys é uma banda descartável, mas já vale uma nota de rodapé na história da música feita por aqui.
O Mestres do Forró foi a primeira atração do palco principal. O primeiro show da noite que animou o público. A maldade do rock foi substituÃda pela ingenuidade do forró. Ingenuidade em partes, pois o duplo sentido esteve presente na apresentação. “Eu quero me trepar no pé de coco, eu quero me trepar pra tirar cocoâ€, foi um dos forrós sacanas entoados pelos mestres. Mas forró é forró e enjoa, o show foi um pouco longo pra quem não tava a fim de ralar bucho.
Os franceses do The Film era minha grande expectativa da noite, portanto minha grande decepção. A banda gringa veio com a pompa de que faria uma grande apresentação. O que se viu foi uma banda burocrática. Distorções, tecladinhos pós-modernos e muita pose. A segunda presença gringa da noite nitidamente agradou mais. A banda argentina Los Alamos tocou um folk rock com pegadas country. Um show diversificado e rico em arranjos.
Ao entrar no palco, Lee Perry conseguiu juntar mais gente no gargarejo do que todas as outras atrações juntas. Ou aquele pessoal chegou ao recinto naquele exato momento ou não sei onde aquela galera estava escondida até então. Durante o melhor show da noite, o Abril pro Rock virou um inferninho enfumaçado. Estranho afirmar, mas foi com toda essa fumaça que o festival conseguiu dar uma respirada. O reggae renovou os ares do APR.