“Oriente desperdiçado†é o filme de viagem com os amigos que talvez você consiga ter paciência para ver até o fim. Lembro da descrição do filme como algo a ver “com a China nos dias de hojeâ€, mas é bem mais sobre o punk (nos dias de hoje, que seja), do que com aquele paÃs em si.
Falar em filme de viagem com os amigos quer dizer intimidade além do aconselhável, então prepare-se para os arrotos, tentativas de estrelismo e filosofia rasa, além de uma inevitável cena de vômito com direito a close, que configura bem as intenções documentais/vamos-ser-amigos desse doc (?).
Mas é bacana perceber que por trás da quase intencional tosquice do material existe algo de realmente punk ali – já que provavelmente punk tem muito pouco a ver com fazer música, e muito mais com impor uma certa figura ao mundo, independente do que o mundo resolva achar sobre o assunto.
A sorte é não querer fazer do grupo retratado, o Joyside, um bando de heróis ou parias da sociedade. Eles não aparecem ali como gênios, como vagabundos ou futuros grandes astros, mas como gente procurando um rumo através do que gosta, fazendo muito mais do que ‘um som’, e sim tomando uma atitude caótica para conseguir vazar um pouco da violenta energia de ser pós-adolescente e quase adulto, cheio de potência sem muito controle.
E “Carro a Sangue� Não dá para dizer que é um filme, nem que é um mau filme, porque esse tipo de resposta é absolutamente inútil para classificar esse trem. Certamente é o manifesto social contra as guerras insanas pela exploração do petróleo menos manifesto e ainda menos social que você já viu.

Carro a Sangue
Tudo gira em torno de um motor de carro movido a sangue, cujo mecanismo simples é: gente entra no porta-malas munido com uma hélice dentada gigante como gente e sai em formato de fluido vermelho para alimentar o motor. É um mundo onde a gasolina ficou cara demais e ninguém mais pode dar a partida em seus queridos possantes.
A partir dessa historinha, pode ter certeza que vários os limites do bom-senso, esteticamente aceitáveis, serão ultrapassados por esse filme, bem mais nonsense que realmente selvagem. Existe sangue e muita carne moÃda, mas o tom de “brincadeira!†corta muito o incômodo. Os rumos são mais ou menos inesperados, mas é bem mais arisco em relação ao que o cinema entrega hoje em dia, mesmo na forma de comédias chamadas de “ácidasâ€. Por conta disso, “Carro a Sangue†talvez pareça mais bacana do que talvez realmente é. Mas que algumas risadas e piadas de mau gosto ali são da melhor espécie, ah, isso são.
Olhando pra frente: Amanhã, terça-feira, tem “Quarto 314â€, à s 16:50h no Usina 4; “Carro a Sangueâ€, 19:20h no Usina 2; e “Como eu Festejei o Fim do Mundoâ€, 18:30h na sala Humberto Mauro.