Chato perceber que a partida já entrou firme no segundo tempo quando o jogo é interessante. Aquela sensação dos quarenta minutos da primeira etapa, quando você lembra que ainda tem uma volta toda do relógio pela frente, é boa demais. Mas se o tempo não passa, também não tem jogo, então vamos tocar.
O que é que tem de mais “O Aperto de Mão da Guatelamalaâ€, do americano Todd Rohal? A hipnose. É o estado hipnótico com que o filme vai se abrindo que prende o espectador colado na cadeira, independente do preconceito mais comum (“mas não tem história!â€) e da construção intencionalmente sem muita estrutura de situações e personagens.
É um esboço – e funciona como esboço, uma seqüência completa de giros em torno de um eixo que existe apenas na sua cabeça, porque você espera alguma coisa do filme. E nisso ele te fisga – sem contar se vai ou não esclarecer o que aconteceu, se é que aconteceu alguma coisa. Se a curiosidade um dia matou o gato, aqui é ela é isca para prender até o fim da sessão.
Por um lado é ótimo ver a lógica torcida, o cinema torcido, os personagens soltos no ar. Por outro, fica uma pulga na orelha: de um cinema independente que parece meio preso nas próprias piadas, no próprio nonsense elevado à quarta potência, que fica ali na beirinha de dar oi para o nada. Um cinema que faz referência ao próprio cinema americano, aqui não simplesmente repetido mas talvez levado à exaustão – talvez porque a vida daqueles outsiders que o indie americano gostava de olhar também esteja cada vez mais exausta.
Mas a fisgada desse aperto de mão é fatal – pega até os créditos terminarem de subir e a tela ficar preta novamente, ainda que possa deixar um estômago meio vazio em quem vê filmes como forma de matar uma fome. E é material fácil de ser estragado por quem grita por aà que “entende de cinema†quando a grande sacada parece mais próxima de tentar não decifrar muito.