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Histórias renascidas

Gramado 2007: Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho

por Paulo Henrique Silva

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Pena que o novo filme do documentarista Eduardo Coutinho, "Jogo de Cena", ainda inédito no circuito comercial, tenha sido exibido fora de competição no último Festival de Gramado. Foi o que de melhor apareceu na programação, pautada por trabalhos de qualidade mediana.

Se a proposta é sedutora - se debruçar sobre os limites da ficção e da verdade - o que se dirá da sua realização, em que Coutinho mistura depoimentos reais e decorados por atrizes, entre elas Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão?

Em seus filmes anteriores, como "Babilônia 2000" e "Edifício Master", o diretor já tinha dado a deixa revelando que, ao contar uma história, os entrevistados sempre se comportam como atores diante das câmeras. O resultado é a ficcionalização da verdade.

O interessante do filme não é simplesmente perceber essa farsa. Eduardo Coutinho promove um jogo de mão dupla, mostrando o trabalho das atrizes, que não podiam imitar ou ironizar o texto. As reações são surpreendentes. Andréa Beltrão trava ao dizer as suas falas, emocionada com a história de uma mãe.


Coutinho

Já Fernanda Torres acrescenta a sua própria história, registrando que chegou a recorrer a um terreiro de candomblé para conseguir engravidar. A grande dama do teatro Marília Pêra não se fez de rogada: editou o texto - de propósito? Ela garante que não.

O jogo não fica por aí. O espectador entra como terceiro participante, já que Coutinho esconde, em alguns momentos, o que é interpretação e o que é depoimento real, quando alterna as próprias protagonistas das histórias com atrizes desconhecidas, sem especificar quem é quem. Quando o diretor entregou mais tarde a revelação sobre quem era ou não atriz, houve surpresa entre os jornalistas.

O início do projeto se deu através de um anúncio de jornal, convidando mulheres que quisessem contar uma história para as câmeras. Apareceram 83 candidatas, mas apenas pouco mais de 20 passaram pela triagem. Nas palavras de Coutinho, há pessoas que não sabem contar uma história, mesmo sendo ela fantástica. E o que o cineasta queria era justamente alguém com capacidade de narrar.

A essa altura o internauta já deve estar se perguntando o motivo de se chamar apenas mulheres. Essa mesma pergunta passou pela cabeça de quem fez a cobertura do Festival de Gramado. A explicação não tem mistério. Segundo Coutinho, as mulheres têm menos receio de falar de assuntos íntimos. De qualquer maneira, a ausência masculina é suprimida pela fala, já que os homens têm papel fundamental na vida das entrevistadas.

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