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Filme de peito

24.08.09

por Mariana Souto

A teta assustada

(La teta asustada, Peru/Espanha, 2009)

Dir.: Claudia Llosa
Elenco: Magaly Solier, Susi Sánchez, Efraín Solis, Marino Ballón, Antolín Prieto

Princípio Ativo:
a dicotomia local/global

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Num contexto em que poucos filmes peruanos chegam até nós, “A Teta Assustada†cumpre a função de abrir uma janela de comunicação com aquele país. Por meio do longa, temos acesso a uma realidade bastante desconhecida, ainda que muito próxima. É um dos principais méritos do filme, mas nem de longe o único.

“A Teta Assustada†está no meio do caminho entre o regional e o universal. Apresenta tradições, costumes e festejos peruanos, mas se encaixa em um modelo narrativo de conto de fadas. Uma história com bases muito familiares, nesse caso atualizado numa fábula da exploração europeia sobre os latinos - representada pela figura da patroa rica e loira que se apropria de “bens culturais†da empregada pobre de traços indígenas. Trata também da questão de gênero, da exploração masculina, dos traumas causados pela violência sexual.

O filme tem (mais que) um pé feminista - diretora, protagonista e outras funções importantes são ocupadas por mulheres - e traz uma visão típica do delicado olhar feminino. Fala ainda de relações ancestrais, das tradições e tristezas que passam de mãe para filha, de forma simbólica e também literal – através do leite materno.

Coerentemente, a estética do filme mistura e concilia o local com o universal. “A Teta Assustada†é muito apegado a suas raízes e traz imagens bastante latinas, mas tem cara de world cinema, cinema de arte que roda o mundo. Por essa razão, dá a impressão de que foi produzido no Peru mas, mantendo-se a estrutura e mudando-se algumas variáveis, poderia ser árabe, africano, asiático... Consideradas as muitas diferenças, lembra um pouco o recente “A Bandaâ€, um pouquinho dos filmes de Aki Kaurismaki e um triz de Emir Kusturica. Talvez nossa equivalência mais próxima seja mesmo a ternura e o bom acabamento de Walter Salles.

Mas o que de mais interessante o filme tem é toda a atmosfera em torno da personagem de Fausta, com destaque para a direção de arte e os personagens secundários. Mais que o drama principal, essa ambientação traz uma vivacidade e um frescor para o longa, sobretudo pelo uso muito acertado da comédia. Há aqui um humor do inusitado, que se dá pelo reconhecimento de excentricidades e exageros da cultura latino-americana, mas que não deixa de lado o olhar carinhoso para esses mesmos traços.

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