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O inusitado, a metalinguagem e, claro, o sexo

04.10.05

por Gabriel Banaggia

Eu sou viciado em sexo

(I am a Sex Addict, EUA, 2005)

Dir.: Caveh Zahedi
Elenco: Caveh Zahedi, Rebecca Lord, Emily Morse, Amanda Henderson

Princípio Ativo:
Adivinha...

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Classificar “Eu sou viciado em sexo†como documentário é, já de início, não fazer jus ao filme. A história narrada na película é, sem dúvida, assumidamente uma reconstituição de partes da vida de seu diretor, Caveh Zahadi, cineasta formado pela UCLA, mas só aí já começam as dificuldades em considerar o filme como documentário. O diretor interpreta a si mesmo, assim como alguns de seus amigos. As muitas mulheres que transitam por sua vida, passando por prostitutas, massagistas, colegas de faculdade e o que o valha, entretanto, são interpretadas por atrizes profissionais.

O inusitado não termina por aí. Num perfeito exercício de metalinguagem, Zahadi insere também cenas da confecção do filme. Alguns trechos são inesquecíveis. Num deles, após “enganar†o público mostrando uma cena passada em Paris, o diretor intervém e explica para a audiência que, por não terem dinheiro para viajar com a equipe de filmagem, aquela cena na verdade se passa em San Francisco, e em seguida a reconstituição continua. Memorável é também o segmento em que, numa imagem que revela por si só ter sido gravada de modo improvisado, uma das atrizes contratadas diz que se recusa a filmar uma cena de sexo oral, e logo em seguida o diretor surge novamente e pede aos espectadores que imaginem a cena enquanto lê a narração que a acompanharia.

Como em outras produções de baixo orçamento, “Super size me†vem à mente, “Eu sou viciado em sexo†abusa de recursos para baratear a produção, como animações e filmagem quase que exclusivamente em locações. Diferentemente do filme sobre o McDonald’s, contudo, aqui toda estratégia narrativa é evidenciada, e a audiência é levada a refletir não só sobre o tema em pauta, mas sobre o próprio fazer fílmico, sobre, em última instância, ao que é que assistimos quando decidimos ir ao cinema.

Uma única lombada no percurso do filme é sentida quando, depois de expor sua longa saga em busca de sexo com inúmeras mulheres, o diretor aborda de modo mais moralista a questão do vício. O desfecho da história aponta afinal para os malefícios do comportamento viciado, tratado como qualquer outra compulsão – Zahadi freqüenta inclusive um grupo de auto-ajuda –, e para a possibilidade redentora da monogamia. Mesmo aí, as conquistas estéticas do filme não se perdem, e a seqüência final feita no próprio casamento do diretor é magnífica. Se a mensagem passada é então a da importância de certos valores conservadores, o filme como um todo não existiria sem seu leitmotif que é o sexo em abundância, e desta forma permanece como testemunho à importância da experimentação, tanto no cinema como na vida.

“Sim, eu sou o protagonista do filme...â€

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