O gato, o rato e Cash ou “When Johnny met Juneâ€
28.02.06
por Rodrigo Campanella
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Johnny & June
(Walk the line – EUA/2005)
Dir.: James Mangold
Elenco: Joaquin Phoenix, Reese Whiterspoon, Robert Patrick
Princípio Ativo: Cash pela metade
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Em certo sentido, Jonnhy e June é como um desenho de Tom & Jerry. A perseguição que promete levar a casa ao chão termina apenas com alguns pratos quebrados e gato e rato devidamente amansados. Se você duvida, acompanhe a trajetória a seguir.
Perseguição 1: Cash x Ray
Johnny & June, a biografia do amor entre o cantor country/folk americano Jonnhy Cash (Phoenix) e a cantora June Carter (Whiterspoon), pega embalo no sucesso da cinebiografia de Ray Charles, concorrente ao Oscar em 2005. Colocados lado a lado, o filme atual perde feio.
Ray tinha no visual um saboroso gosto de ‘contrabando’ dentro da indústria, com a fotografia estourada e aquela cenografia mais real que a vida recendendo a teatro segurando uma narrativa firme mas pouco surpreendente.
Visualmente, ‘Jonnhy e June’ é elegante (enquadramentos, direção de arte correta, boas transições em fusão) e não passa disso. O diretor, James Mangold, narra com economia como em Brokeback Mountain, mas fica longe do mesmo resultado.
Perseguição 2: Mangold e o estúdio (ou sua consciência)
“Vou fazer o roteiro da vida de Johnny Cash baseado nos dois livros que ele escreveu.â€
“Ele era casado com aquela cantora, June Carter, não?â€
“Sim.â€
“Que tal um filme sobre isso?â€
Perseguição 3: Harry & Sally – Feitos um para o outro
Apesar de ter na mão uma boa história de trauma, superação e glória, o diretor Mangold foi mais além: minimizou a vida de Cash à sua conturbada história romântica com June Carter, segunda e definitiva mulher. A favor: com Phoenix e Whiterspoon, Mangold consegue veracidade impressionante ao contar que aquela era a única mulher no mundo capaz de salvar Cash da destruição completa. A relação entre os dois chega a ser palpável, criando as melhores cenas.
Contra: vida e obra de Cash aparecem como curiosidades (ele tocou com Elvis, teve uma primeira mulher) e o espectador fica longe de se aproximar de uma personalidade e produção musical complexas, cheias de morte e esperança.
Perseguição 4: Phoenix, Whiterspoon e o bom papel
Joaquin Phoenix deve ter ouvido a derradeira gravação de Cash, um melancólico muro de pedra chamado American IV: The Man Comes Around. Isso ajudaria a explicar como ele consegue ser tão mais denso e próximo do doce-amargo Cash que o resto do filme, mesmo preso a um roteiro que busca amaciar a trajetória do anti-herói. A seu lado, Reese Whiterspoon impressiona ao se esquecer como namoradinha da América e faz o melhor papel de sua vida. Juntos, eles vencem a fase do gato e do rato, ao contrário do filme: divertido, mas longe da estatura de seu biografado.

Johnny ou Joaquin? Só vendo o filme para (talvez) saber.
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