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O benefício da dúvida

02.06.06

por Rodrigo Campanella

A Profecia

(The Omen, Reino Unido, 1976)

Dir.: Richard Donner
Elenco: Gregory Peck, Lee Remick, Harvey Stephens, Billie Whitelaw

Princípio Ativo:
satanices no ouvido

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É complicado mexer com vacas sagradas. Nos 30 anos que se passaram desde o lançamento de ‘A Profecia’, em 1976, o filme entrou para a categoria dos clássicos – não necessariamente os melhores, mas os que marcaram uma geração. O filme não precisa da muleta da idade para se sustentar bem diante do público. Mas, como ele próprio faz, a melhor proposta pode ser dar o benefício da dúvida.

Ainda vale a pena?

‘A Profecia’ envelheceu bem, com o cabelo grisalho dando um charme. Como normalmente acontece com bons filmes, a tensão continua lá décadas depois. Enquanto o embaixador Robert Thorn e sua esposa começam a desconfiar que Damien, o filho adotado (sem ela saber), pode ser o Anticristo, quem assiste amarga junto essa dúvida. Crença religiosa não é passaporte de entrada na história, já que existe a possibilidade de boa parte daquilo ser apenas paranóia – mas o filme pesa a mão para deixar claro qual lado da história apóia.

Será que o impacto é o mesmo?

Possivelmente não. Jogar um menino de bochechas rosadas na tela e dizer que ele é o Anticristo e deve ser morto devia fazer um auê muito maior nos anos 70. Aliás, o filme já valeria a pena só para ver o sorriso maldito que conseguiram tirar de Damien. Genial. E o modo como o público compreende a ‘subida de posto’ do garoto na escala política, com apenas uma fala no começo do filme levando à última cena, é de se aplaudir de pé. Já a cena do cemitério, mal-feita em estúdio, merece algumas vaias em qualquer época.

É um filme parado?

A ‘subida de posto’ de Damien é um bom exemplo de como o filme avança na história sem ir parando em cada pedra do caminho. Enquanto escrevo isso, fico sabendo que a nova versão de Super-Homem terá coisa de duas horas e meia de duração. Com tanto dinheiro gasto, cada dólar deve aparecer na tela. Resultado: muita coisa e muita gente sendo exibida - mas nem tudo aquilo é essencial. ‘A Profecia’ vai com calma, mas acerta o nervo.

E a melhor parte?

Possivelmente é a missa satânica que o compositor Jerry Goldsmith arma nos ouvidos do público durante a maior parte do filme. Ainda que você não esteja vendo, o mal permanece ali. Ou talvez a escolha de elenco, de Harvey Stephens como Damien a um ótimo Gregory Peck que faz a gente querer gritar ‘imbecil!’ a cada indecisão de seu Sr. Thorn. E a direção segura de Richard Donner (que depois faria a série Máquina Mortífera) lembra uma última coisa: naquela época, um bom filme de terror era antes de tudo um Filme.

A cara não é boa,
mas o cenário também não ajuda...

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