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O mundo é (um) plano (ruim)

25.08.06

por Rodrigo Campanella

Os Maus Perdedores

(Les Mauvais Joueurs, França, 2005)

Dir: Frédéric Balekdjian
Elenco: Pascal Elbé, Simon Abkarian, Isaac Sharry, Lihn Dan Pham, Teng Fei Xiang

Princípio Ativo:
Trambiques de pequeno e gigantesco porte

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Aos cinco minutos de filme, você aposta um terço das suas fichas na ótima primeira cena de “Os Maus Perdedoresâ€. Nos cinqüenta minutos, você coloca na mesa tudo que ainda tem, pelo elenco afinado que o filme exibe. Com oitenta minutos, você passa o braço e rapa todas as fichas do jogo: a sessão acabou e a sorte de ter ido assistir foi sua.

Os trunfos, o filme guarda um em cada bolso do casaco. No lado direto está a seqüência de atores, no esquerdo a habilidade da direção em ser mais rápida que os olhos do público e ultrapassar os personagens para dar a sensação de um mundo solto, tão sem amarras e sinalização quanto sem liberdade.

Seria possível comparar a afinação do elenco com a de uma orquestra, mas orquestras não passam o concerto todo à beira de sair arrebentando com o palco e os instrumentos. É a tensão de uma Paris suburbana que não parece uma ilha distante, como é comum no cinema, mas um lugar tomado pelo descompasso, pela pólvora e pelo suor estrangeiro roubado. Enfim, a França em película contrabandeou o mundo.

Fazendo as vezes de eixo do filme está o bandinho de golpistas de pequeno/médio porte do qual faz parte Vahé Krikorian. Vivendo do trambique de rua ao auxílio na escravidão de estrangeiros, eles se mantém na corda bamba da classe média. Aliás, fechar os olhos para a desgraça generalizada em volta é a chave no filme para manter a posição que se ocupa, por pior que seja. Mas o diretor Frédéric Balekdjian não vai se preocupar em amarrar todas as pontas no final – ele se interessa é pela dinâmica desse mundo que virou filme policial onde os mocinhos faltaram à filmagem.

O jornalista Thomas Friedman defende que o mundo hoje é plano: as fronteiras se dissiparam e as mesmas oportunidades de ouro estão disponíveis, em diferentes embalagens, a qualquer país ou pessoa que se prepare e abra os braços adequadamente. Nesse reino de self-made men, ele parece se esquecer de olhar pela janela ou pelas fotos do jornal.

É a partir desse tipo de visão rasa que “Os Maus Perdedores†se torna, além de grande diversão, um filme necessariamente político. Depois da sessão você até acredita que o mundo é plano, mas porque um trator passou por cima da mesa de jogo.

O fim do mundo à francesa, versão globalizada

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