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Quem não vê cara, ouve canção

29.09.06

por Braulio Lorentz

Gram – Seu Minuto, Meu Segundo

(Deckdisc, 2006)

Top 3: “Você temâ€, “Parte de mim†e “Me trai comigoâ€.

Princípio Ativo:
Canções canção

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Quando a prosa é sobre a cara da música pop, há quem tenha resposta pronta. “Imagem não é nadaâ€, dizem os que embrulham presente com papel de açougue. Pouco lhes importa os allstars ou casaquinhos. Desculpe-me, mas essa frase me faz lembrar apenas propaganda de refrigerante de lima-limão.

No que me aparece a banda paulista Gram, com seu segundo CD recém-lançado. Não tem como fugir da comparação entre disco (um muito uau!) e show (um pouco blé!). Ter, claro que tem, mas eu não quero. Tudo aconteceu em pouco mais de uma semana. A banda tocou pela primeira vez em BH; meu amigo devolveu o disco de estréia que o havia emprestado; lançaram Seu Minuto, Meu Segundo.

Confesso que, com meus headphones e de olhos fechados, as canções dessa e daquela bolachinhas soam mais sinceras e bonitas. As caras e caretas do grupo e da platéia, durante o show, diminuem o potencial de pérolas como “Parte de mim†e “Me trai comigoâ€.

Das duas, uma – ou ambas: estou ficando velho, e a equação “empurra² + berreiro = empolgação†não funciona mais comigo. Ou o Gram é um caso a parte, e ainda não preciso adquirir uma cadeira de balanço.

Em casa, em uma cadeira reclinável, o Gram é bem melhor – melhor pra mim, pelo menos. Não há fumaça de cigarro ou gatinho de pelúcia sendo alçado entre uma faixa e outra. É difícil falar isto, mas não agüento mais aquele bichano. Talvez por ter visto o clipe mais de 300 vezes. Nossa, que falta de ternura... Daqui a pouco falarei que não vou mais com a cara do cachorrinho dos clipes do Frejat.

De cara, as faixas “im†(“Antes do fimâ€, “Melhor assim†e “Parte de mimâ€) grudam no ouvido. Elas são unidas não apenas pelo fato de estarem em seqüência no álbum, mas também pela qualidade. A primeira foi muito bem escolhida como música de trabalho, a segunda tem letra superbacana e a terceira tem guitarras, teclados e vocais que brigam e fazem as pazes ao mesmo tempo.

Outra boa parte é a “eu, eu mesmo e minhas letrasâ€, encabeçada pela dupla “Me trai comigoâ€, com título que se explica a si mesmo, e “Lupado†(“Fui amigo meu / Eu pra mim fui, bem / Andava aos meus pésâ€). “Você tem†é uma das canções mais canção que eu já ouvi neste 2006. Você poderia imaginar qualquer intérprete do outro lado. Pouco importa se é Gram, Beatles, Kweller ou Oasis.

E foi assim que a banda me pegou. Sem aparecer. O suor do vocalista, pianista e guitarrista Sério Filho que me fez emocionar não foi o que pingou durante as apresentações, e sim o que rendeu o clipe do tal gatinho, do qual ele é o diretor. Enfim, esqueçamos os clipes com animação de animais fofos, deixemos de lado berros alheios e a, vejam só, imagem da banda. Ao fazer isso, sobra uma dúzia de boas canções.

Sérgio segura o guarda-chuva, carrega o piano e desenha os gatos

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