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O melhor da naturalidade

09.10.06

por Alfredo Brant

Cat Power – The Greatest

(Matador – Importado, 2006)

Top 3: “Living Proofâ€, “Willie†e “Love & Communicationâ€.

Princípio Ativo:
A América Profunda

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Para início de resenha, The Greatest não é uma coletânea. Trata-se do mais recente disco de Chan Marshall, cantora americana por trás do codinome Cat Power. Para os que não conhecem seu trabalho, The Greatest é o convite ideal. É ao mesmo tempo seu disco mais acessível e mais audacioso.

Cat Power construiu sua carreira a partir de meados dos anos 90 com discos extremamente autorais. Alternando lúgubres baladas ao piano e frágeis canções levadas por guitarras, a cantora sempre teve uma queda pela melancolia e pela simplicidade. Seus trabalhos têm algo de artesanal. Talvez pela produção econômica, que resulta em canções com um delicado charme low-fi, mas também pela sua maneira de interpretar emotiva e carregada, como se estivesse expondo todos seus medos e sua fragilidade.

Ocupando lugar de destaque no casting do selo Matador, Power estava preparada para vôos mais ousados. Ela compôs um punhado de músicas que remetem diretamente aos gêneros tradicionais americanos, do country ao folk, e recrutou veteranos músicos de soul para as gravações. Batizada de “The Memphis Rhythm Bandâ€, o grupo é formado por importantes caras que, durante os anos 70, gravaram discos com All Green e trabalharam na Stax Records, célebre gravadora de soul.

Nesse mergulho na América, Cat Power se mostra muito à vontade ao lado de gaitas, teclados, metais e vocais de apoio. O resultado é um disco leve, belo e inspirado. Quem imaginaria Cat Power cantando algo como “Living Proofâ€, que não me permite outra definição que não seja a de legítimo gospel americano? E ela continua a nos surpreender quando ouvimos com um sorriso no rosto a deliciosa melodia de “Could We†ou a classuda “After Allâ€. Em canções tipicamente soul como “Willieâ€, Marshall interpreta com tanta emoção e naturalidade que parece ter passado a vida inteira cantando ao lado das big bands de Memphis.

Quando o piano e os metais cedem mais espaço às guitarras, ela lembra seus trabalhos anteriores, como em “The Moon†e “Love & Communicationâ€. Essa última fecha o disco de maneira cortante e dramática, como um desabafo preso na garganta.

The Greatest é um disco para se saborear com o tempo, sem pressa. A cada audição, pequenas pérolas são descobertas e as canções revelam sua beleza. Mesmo com arranjos elaborados e toneladas de instrumentos, as músicas ainda conservam algo de intimista, como se ela estivesse cantando para você. O trabalho é ousado para uma cantora como Cat Power, mas nada soa pretensioso ou sem propósito. Num 2006 com um punhado de discos bons, quantos seriam tão maduros e coerentes quanto este? O número exato eu não sei, mas certamente poucos.

Não é só quem tem fama que deita na cama, quem tem talento também

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