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Command, (divide) & conquer

22.10.06

por Rodrigo Campanella

O que você faria?

(El Método, Argentina/Espanha/Itália, 2005)

Dir.: Marcelo Piñeyro
Elenco: Eduardo Noriega, Najwa Nimri, Eduard Fernández, Pablo Echarri, Natalia Verbeke, Carmelo Gómez

Princípio Ativo:
dedo na ferida

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“O que você faria†é o melhor simulador de guerra surgido em 2006. Enquanto produtoras de jogos se esforçam para re-criar de forma realista a 2ª grande guerra ou o império romano e a televisão dá sua parte com a trairagem estilo livre de um “O Aprendiz†ou Big Brother, o diretor argentino Marcelo Piñeyro entra no mesmo jogo por uma porta mais próxima: a do emprego nosso de cada dia e de amanhã.

Exércitos

Sete candidatos reunidos na sala para uma entrevista de emprego. Surpresa, ninguém mais aparece. As instruções vem dos monitores instalados à sua frente. Há um entrevistador entre eles, diz a primeira. Com o acréscimo sádico: eles mesmos eliminarão uns aos outros. Na realidade, as coisas aparecerão ainda mais cruéis depois de pingado o ponto final.

Estratégia

Esse é “O Método Grönhom†de seleção. Não é necessário passar por ele, só se você quiser o emprego, lembra a secretária que os recebeu na ante-sala. Fora da sala, a cidade de Madri tenta vomitar o estado atual do mundo e a globalização que desce quente pela garganta, com alguns milhares de habitantes gritando contra uma reunião do G-7. Dentro da sala, ‘nossos heróis’ capricham para se renderem tanto a essa nova ordem mundial que ela não lhe traga perigo. Ironia caprichada, muitos que gritam lá embaixo enfrentarão seleções parecidas se quiserem garantir algum dinheiro na carteira.

Avanço

Piñeyro mais o montador Iván Aledo criam uma sensação contínua de sufocamento. A seqüência inicial fora do prédio, com tela partida em três, é grande exemplo de como um recurso pode funcionar bem tanto no visual quanto para estabelecer o clima, opressivo, daquela Madri. Já na sala, a história mantém a tensão até a saída de Julio, o candidato interpretado por Carmelo Gómez. É nele que o espectador cola e encontra o eixo do filme. Com a eliminação, você já não tem para quem torcer ali – e a direção não ajuda o espectador a encontrar um outro lugar.

Massacre

“O que você faria†vem de uma peça de teatro, algo visível e cansativo na tela, com cenas que seriam bem melhores com o toc-toc-toc de um pé no palco. Nesse ponto o carisma de Carmelo faz mais falta. Por outro lado, é só ao deixar o filme sem eixo que Piñeyro consegue desenhar exatamente um jogo sem referências ou limites, onde vale-tudo não é força de expressão. Quando uma vagina ou uma punheta viram armas. Ele não está falando de emprego, mas de trocar um cérebro, uma ideologia e um corpo por motivação empresarial inflada com ar. Consegue um ótimo filme sobre tempos em que escrúpulo ganhou preço fixo.

A mesa servida para a refeição completa.

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