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A maior história (já) contada (de novo)

01.12.06

por Daniel Oliveira

Jesus - A história do nascimento

(The Nativity Story, EUA, 2006)

Dir.: Catherine Hardwicke
Elenco: Keisha Castle Hughes, Ciarán Hinds, Shoreh Aghdashloo, Oscar Isaac, Alexander Siddig

Princípio Ativo:
bom orçamento e oportunismo

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Criado em família cristã, conto com bacharelado (Batismo), mestrado (Catecismo) e doutorado (Crisma) em religião católica. Isso me fez participar de várias “encenações†da história do nascimento do Menino Jesus na minha paróquia. Fui José, Rei Mago, Pastor e Anjo Gabriel mais de uma vez (sabia de cór aquela fala “Alegrai-vos, alegrai-vos. Nasceu hoje um menino, do seu povo ele é salvador...â€).

“Jesus – A história do nascimento†se resume ao que as encenações de minha infância faziam, só que com um orçamento de milhões de dólares. A diretora Catherine Hardwicke faz uma leitura simplificada e mastigada da história narrada – de forma fragmentada e bem mais instigante – no evangelho.

Direto do país da piada pronta, o filme vinha sendo considerado a “pré-seqüência†d’A paixão de Cristo†– pela temática e pelos sonhos megalômanos de bilheteria junto à comunidade cristã. Mas ao contrário da questionável ousadia do longa de Gibson, que retratou as últimas horas de Cristo com uma violência até então inimaginável, “A história do nascimento†soa oportunista e subestima seu público.

Hardwicke ignora que tem duas indicadas ao Oscar (Keisha Castle Hughes e Shoreh Aghdashloo), como Maria e Isabel, e enche o longa com aqueles voice-over’s que explicitam os pensamentos dos personagens – algo de que a interpretação dos atores deveria dar conta. Os diálogos são quase reproduções exatas da Bíblia e soam didáticos em alguns momentos e interpretados em um tom acima em outros – excesso que Hardwicke já havia demonstrado em “Aos trezeâ€.

Sem acrescentar muito ao conteúdo que explora, o filme – ironicamente – se aproxima de uma outra adaptação literária de 2006, “O Código Da Vinciâ€. Os dois lidam com um material essencialmente audiovisual, mas se prendem ao conteúdo literário. “A história do nascimento†tem seus méritos técnicos na bela fotografia – que trabalha a idéia bem definida de claro-escuro/bem-mal do roteiro, com o uso de sombras e contra-luz antes do anúncio do Anjo Gabriel, e iluminando as cenas quando a “salvação†chega. A direção de arte e os figurinos também são impecáveis, contrastando bem a situação de pobreza do povo e a riqueza de Herodes, que Cristo viria mudar.

Mas o longa termina aí, como uma reprodução tecnicamente bem realizada de algo que podia ser bem mais. Vai fazer muito dinheiro nas bilheterias? Provavelmente. Mesmo assim, a história de que Keisha interpretou a Virgem Maria e ficou grávida durante as filmagens é ainda o mais interessante – e o que vai ser lembrado daqui a alguns anos – a respeito desse filme.

“Mais luz no protagonista, por favor! O público ainda não entendeu quem ele éâ€

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