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Beethoven falado

22.12.06

por Rodrigo Campanella

O Segredo de Beethoven

(Copying Beethoven, Alemanha/Estados Unidos, 2006)

Dir.: Agnieszka Holland
Elenco: Ed Harris, Diane Kruger, Angus Barnett, Joe Anderson, Matthew Goode

Princípio Ativo:
harmonia com letra

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Nos melhores momentos de “O Segredo de Beethovenâ€, a diretora Agnieszka Holland se revela uma boa contrabandista de brinquedos num mundo cinematográfico $ério demais. Sua câmera na mão é boa, displicente, e gera um prazer perverso ao fazer uma gigantesca tela de multiplex chacoalhar e se movimentar emocionada em torno da Nona Sinfonia e do compositor que a trouxe à luz.

Nas passagens menos inspiradas, o filme consegue a proeza de ser o inverso perfeito do personagem que traz no título. Beehtoven fala da música como a linguagem de Deus trazida aos homens e proseia sobre o intraduzível em palavras. Holland, apoiada no roteiro didático, se esforça para transformar esse movimento em imagens bem enquadradas, educadas e que lavam a boca depois de praguejar. A sensação é a de ganhar um bom livro em versão audiobook: o conteúdo vem inteiro, a emoção fica na caixa.

Muito do potencial do filme desaba na vala comum que separa grandes interpretações (mediúnicas ou não) de atores bem maquiados fazendo papéis acima da média. Ed Harris, numa tentativa dedicada de Beethoven, não atinge aquele lugar onde um ator multiplica um personagem que, ali na tela, passa de repente a ser real. Parte da culpa pode ser debitada na conta das duas rasteiras que ele recebe: 1) apesar do Beethoven no título, a protagonista é a última copista do compositor, Anna Holtz. A restrição ao segundo plano restringe o compositor a uma figura quase folclórica; 2) Diane Kruger, como a copista, entrega uma interpretação feijão com arroz, sem direito sequer a batata frita.

Mas se o tratamento sobre a figura do alemão não tem a multiplicidade de um Ray ou um Capote, o longa se revela uma das melhores diversões em cartaz para as férias. É o tipo de filme ‘com conteúdo’ (entre e saiba mais sobre Beethoven) que surpreende por ser bem realizado, atraente no visual e uma pequena pitada provocante. Exatamente o tipo de pipoca que você se sente um pouco mais inteligente por ter escolhido para assistir.

E ainda que não houvesse outra qualidade, já valeria estar ali numa sala escura e acompanhar como a Nona Sinfonia vai se armando no ar para explodir em sua primeira apresentação. Se o filme terminasse ali, talvez você saísse até mais feliz.

Beethoven está em primeiro plano, mas só nessa foto.

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