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Um francês improvisando “Lá lá lá lá lá†numa canção americana

05.01.07

por Rodrigo Campanella

Você é Tão Bonito!

(Je Vous Trouve Trés Beau, França, 2005)

Dir.: Isabelle Mergault
Elenco: Michel Blanc, Medeea Marinescu, Wladimir Yordanoff, Benoît Turjman, Eva Darlan

Princípio Ativo:
borbulhas de amor

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Reza a crença globalizada que o Big Mac deve ter o mesmo gosto em qualquer canto do planeta, independente dos ingredientes envolvidos e da qualidade do chapeiro. Mas o tal controle nunca é tão soberano e a diferença aparece, de um franqueado para o outro. Para tentar compensar isso, dá-lhe molho especial – e o sanduíche fica mais perto daquele gosto de comida que parece ter nascido em lata.

Isso, supostamente, faria com que você ‘se sentisse em casa em qualquer lugar’ – casa não é a palavra certa, mas dá uma idéia aproximada. Algo parecido deve ter levado “mais de 3 milhões de franceses†(credencial do release) a assistirem “Você é tão bonito!â€. Mesmo estando num filme francês, a sensação é de assistir uma comédia romântica americana. O trivial, mas com pedigree nacionalizado e um leve toque europeu. Bem leve.

A companheira de trabalho do fazendeiro Pigrenet (Blanc), que só por acaso é sua esposa, morre em serviço. Sem tempo para baboseiras como luto, ele parte em busca de uma nova candidata ao posto de ajudante não-remunerada com aliança na mão. Há as piadas-padrão com inabilidade doméstica, gatos na máquina de lavar, parentes atrapalhando viagens secretas e comida em lata fazendo as vezes de iguaria importada. E, se você é do tipo que não gosta de rir antecipando a piada, há também passagens engraçadas. Hilárias, não.

O pedigree europeu está na condução leve (que às vezes fica perto de fazer o filme voar da sua atenção) e no casal protagonista: ele, baixinho, careca e ranzinza. Ela, Elena (Marinescu), uma romena em busca de uma vida melhor que não parece uma princesinha vista de qualquer que seja o ângulo. Na tela, a Romênia parece um grande cinzeiro lotado de gente querendo escapar. E os dois até pareceriam gente que você vê na rua, não fosse o roteiro maquiado a pó de arroz.

Mas essa leveza tem seu lugar certo, e ele é a sensação de um fim de noite em casa com os amigos, bebida no copo ou na taça e um francês enrolando a língua numa música americana no som. Ali, o mundo parece melhor e a vida leve, e não há mal nisso. Mesmo que, pela manhã, até sem ressaca, algo daquilo soe meio ridículo. E a culpa não será da vida, mas daqueles repentinos excessos de boa vontade (ou champagne) para o qual algumas canções foram exatamente talhadas.

Pigrenet, Elena e um urubu em cima da mulher (ou empregada) alheia

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