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Supremo de lantejoula

15.02.07

por Rodrigo Campanella

Dreamgirls – Em busca de um sonho

(Dreamgirls, EUA, 2006)

Dir.: Bill Condon
Elenco: Jamie Foxx, Beyoncé Knowles, Eddie Murphy, Jennifer Hudson, Danny Glover

Princípio Ativo:
the show, must go on

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Stanley Kubrick traduziu tardiamente em palavras a idéia de que fazer cinema é compor música. Mas foram os americanos que, já tendo entendido isso, e com toda aquela dificuldade própria para aceitar simbologias e tendência a levar tudo ao pé da letra, criaram o cinema como gênero musical. Com direito a emoções cantadas e bumbos marcando o compasso do coração.

Não importa as restrições que você tenha ao monte de lixo que Hollywood põe no projetor anualmente, o musical é o melhor daquilo em que eles são mestres: o espetáculo. E “Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho†é um catálogo de purpurinas, paetês, lantejoulas, espelhos, glitter, holofotes, néons e ótimos cenários de carpintaria, tudo ajustado para vidrar olhos e ditar o ritmo do pé por duas horas.

Com um trio de cantoras que tenta a escalada do sucesso, conhecemos a indústria musical que pintou a música negra a pó de arroz e segue transformando cabeças em degraus, como um Midas invertido. Com nomes trocados, e açúcar, é a história do trio The Supremes e da gravadora Motown.

Há dois anos “Os Produtores†tentou trazer um musical da Broadway (vindo de um filme) para as telas, com mesma direção e elenco dos palcos. Foi um filme quadrado com pé preso no acelerador. “Dreamgirls†também nasceu na Broadway, mas realiza o que outro havia deixado pela metade. É a Broadway for export e o mais próximo que boa parte do mundo vai chegar de lá nos próximos anos. Numa tela enorme e com som calibrado funciona espetacularmente bem.

Engraçado é sair da sala com a sensação de que algo importante foi dito lá dentro, mas de modo comparável a um prato refinado servido na forma de Elma Chips. Por outro lado, é interessante ver num filme tão cheio de brilhos a noção de onde é que a fama pode (não) levar no final dos lucros. “Dreamgirls†guarda uma rabugice saudável no fundo, carregada com competência pelo elenco.

Uma pena que Big Irmãos e Irmãs só irão assistir “Dreamgirls†quando sair em dvd. O aviso lá pode ser tarde, e sempre há o risco de não entender a parte da mensagem enquanto se tenta copiar o vestido da Beyoncé. Mas pelo menos a aula de interpretação vai ser boa. Jennifer Hudson, em maturação, rouba metade do filme. E o lado careteiro de Eddie Murphy raramente aparece por baixo da boa interpretação. Foxx (usualmente bom) e Beyoncé completam o elenco estrelado que avalizou o custo do filme. E há aquelas músicas, que provavelmente funcionariam bem até no meio do inferno.

Entre a verdade e os holofotes, imprima-se os holofotes.
Com um fundo de verdade.

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