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Granada a meio mastro

16.02.07

por Rodrigo Campanella

Cartas de Iwo Jima

(Letters from Iwo Jima, Estados Unidos, 2006)

Dir.: Clint Eastwood
Elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase, Shido Nakamura, Hiroshi Watanabe

Princípio Ativo:
luto

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1.Negação
É difícil sair de “Cartas de Iwo Jima†sem ter gostado tanto e não pensar que talvez o problema seja seu. No lançamento de “A Conquista da Honra†já se cantava a pedra que “Cartas†era muito melhor, algo carimbado pela indicação ao Oscar de Melhor Filme e outros prêmios. Mas a histeria recente sobre “Babel†provou que reconhecimento não significa algo ótimo na tela.

2. Raiva
Não que dê para comparar com “Babelâ€. “Cartas de Iwo Jima†é dirigido, novamente, com elegância e ritmo por Clint Eastwood, que faz um filme, não uma defesa de tese. É um drama respeitável, e respeito é a palavra de ordem e obstáculo maior.

“Menina de Ouro†era um roteiro fraco, clichezado mas bem formatado para basear um estupendo trabalho de direção. Em “Cartasâ€, com roteiro melhor (de Iris Yamashita), Clint parece barrado pelo respeito extremo à história e aos personagens que conta. Mais que um relato sobre seres humanos em guerra, é um pedido de perdão histórico: um ritual fúnebre ,quarenta anos tardio, para os japoneses desabados em Iwo Jima.

3. Depressão
“A Conquista da Honra†tinha a batalha de Iwo Jima vista do ponto de vista norte-americano. “Cartas†inverte o ângulo. Para um par de filmes EUA, é um feito e tanto. Aqui os soldados tem nome e não apenas número, mas sobre cada um a câmera pousa para encontrar um herói humilde – mesmo escapando da mitificação do ‘grande herói’. Sobra admiração pela coragem e lealdade, mas falta estofo para retratar uma guerra, onde referências e ações humanas comuns parecem insuficientes para dar realidade ao vazio absurdo de estar ali para morrer.

4. Choque
A visão da praia deserta da Ilha de Iwo Jima gravada em 2005 é o maior nó na garganta dos dois filmes. Nesse vazio da batalha que nós sabemos mas não está mais ali, cada um pode encontrar sua noção própria da tragédia – como na filha ausente em “Menina de Ouroâ€. Nem a boa música, a câmera segura e o excelente elenco japonês, conduzido por Ken Watanabe, alcançam o mesmo impacto.

5. Aceitação
Há dois fios de ouro em “Cartas†que se perdem. O primeiro, sobre como a lealdade e humanidade de um general ao defender seus homens transforma um confronto, programado para ser rápido, em um massacre exponencial. O segundo, sobre o sentido japonês para a morte, diferente do ocidental. Eastwood passa por aí, presta condolências, mas não desloca seu ponto de vista realmente. É um começo. Sobre Iwo Jima, vale a obra-prima do francês Chris Marker, “Nível 5â€. O resto ainda está mais próximo do silêncio.

Homens mortos respirando

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