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Pé na fantasia

21.02.07

por Marcelle Santos

Lasciva Lula - Sublime Mundo Crânio

(Independente, 2007)

Top 3: “Pra Matar a Fomeâ€, "A letra da canção desgovernada", "Em frangalhos (e unidos...)"

Princípio Ativo:
Chuva de confetes

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O primeiro CD do quarteto carioca Lasciva Lula, Sublime Mundo Crânio, é a prova de que quatro brasileiros nos anos 2000 podem fazer mais com guitarra, baixo, bateria e violão do que externar dores adolescentes, criar pseudo-críticas ao sistema ou fingir que são gringos. O Lasciva Lula é bom porque traz uma combinação que nunca faltou a toda boa banda de rock: senso de humor inteligente, criatividade e sensibilidade.

Sublime Mundo Crânio é um disco admirável desde o encarte. Ele traz doze faixas curtas, bonitinhas e surpreendentes, enfeitadas com palmas, molhos de chaves, flautas e um órgão de mentirinha. As letras são como alegorias de Abbey Road e falam da dor de uma bailarina que não quer dançar, do admirador que insiste em se manter secreto, da moça do vestido azul que vê o desfile de rua passar...

A originalidade das composições se mostra no verso de “Pra Matar a Fomeâ€, que é saltitante como Obla-di-obla-da (“Fandangos mole e coca sem gás / e você ao meu lado, zombando de mimâ€) e em “A Letra da Canção Desgovernadaâ€, que narra uma improvável violação de direitos autorais por um “bandoleiro fortemente armadoâ€.

Mas se os versos de Felipe Schuery impressionam no papel, espere até você ouvi-los em alto e bom som. Sem economizar nos berros entusiasmados, e com uma flexibilidade vocal que vai do Caetano jovem ao Raul Seixas, é bem provável que, usando as roupas certas, ele seja grande performer. É o que apontam as empolgantes “Em Frangalhos (...e unidos)†e a já mencionada “A Letra da Canção Desgovernadaâ€, que merece ser alçada ao posto de clássico do rock nacional.

O disco também é assombrado por pequenas pérolas melancólicas. “Suportar†traz o tique-taque de um relógio e um solinho de guitarra doce e hipnótico feito gotinhas d´água. “A Nave de Noé†conta no tom solene de seus violoncelos o triste e espetacular encontro de extraterrestres com os habitantes da Terra.

Na seção do “porém†entram a pulável “Jaceguai†e “Chuva!â€, que atravessou os limites do bonitinho e acabou parecido demais com Palavra Cantada.

Influências mais maduras certamente incluem Beatles, Mutantes e Tropicália, e possivelmente Radiohead e um monte de bandas de rock gaúchas. O resultado da mistura é um pouco como a chuva de confetes na foto do encarte do cd: alegre, colorido, e com um pé corajoso na fantasia.

A foto dos confetes já apareceu no Prognóstico, mas essa é engraçadinha também

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