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Síndrome de Peter Pan

28.03.07

por Rodrigo Ortega

Capital Inicial - Eu Nunca Disse Adeus

(Sonybmg, 2007)

Top 3: “Eu nunca disse adeusâ€, “Eu e minha estupidezâ€, “Altos e baixosâ€

Princípio Ativo:
Altos e baixos

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Dinho Ouro Preto é um fenômeno cada vez mais estranho no universo "pop-rock" brasileiro. Basicamente, ele é um cara de 42 anos que canta, fala e dança como um moleque de 15. Parece que quanto mais velho ele fica, mais adolescente ele quer ser. O agravamento desta síndrome de Peter Pan é facilmente diagnosticado por quem vê o cantor no palco ou por quem ouve Eu Nunca Disse Adeus, 12º disco de estúdio do Capital Inicial.

A faixa de abertura, "A vida é minha", mostra o tamanho da ladeira que o Capital vem descendo desde que reapareceu para o grande público, em 1998, com o bom álbum Atrás dos Olhos. A canção é uma versão piorada de "O mundo" (aquela do “se eu for ligar pro que é que vão falar, não faço nadaâ€). A letra da música nova é puro chilique de menino pequeno: “a vida é minha e eu faço o que eu quiserâ€.

A primeira faixa de trabalho, "Eu nunca disse adeus", ainda tem resquícios das melhores qualidades do Capital Inicial: guitarras que imitam bem o sotaque inglês e um romantismo menos dramático que o de seu ex-colega de Aborto Elétrico. “Eu adoro a minha televisão†tem ainda mais dessas guitarras, mas também uma letra de protesto que dá sono, de tão óbvia.

No refrão de "Diferentes" ("Quem vai entender? Tão iguais e diferentes quanto eu e você"), eles aprimoram seus versos mezzo-nonsense/mezzo-naive (tudo bem, não precisava dessa salada de línguas para dizer que é uma música boba). Em "18", Dinho Ouro Preto chega ao extremo da crise de Peter Pan: "Tenho 18 e não sei por onde começar", reclama.

Além de apresentar os sintomas, o CD mostra também as sessões de terapia. Em "O Imperador", Dinho fala sobre um rockstar que se perdeu nas armadilhas da fama, e em "Altos e baixos" ele faz uma metáfora da própria história de sua banda. “Aquiâ€, “Eu e minha estupidez†e “Um homem só†dão ao disco um tom confessional e depressivo. Mesmo que sejam baladas mornas, é um alívio saber que por trás daquele sorriso largo e irritantemente constante de Dinho Ouro Preto existe um ser humano.

Eu Nunca Disse Adeus deixa estes dois caminhos possíveis para Dinho: abrir o coração e ser sincero (mesmo se for pra contar como é ser um Felipe Dylon de 42 anos), ou fazer esses manuais de auto-ajuda cada vez mais infantis. Caso Dinho escolha o primeiro caminho, ele só precisa de umas idéias musicais mais criativas. Se ele seguir pelo segundo, periga de, daqui a 20 anos, aparecer na TV um velho de 60, com bermuda colorida e cabelo espetado, animando o público em um daqueles programas matinais para os pimpolhos.

When I'm lyin' in my bed at night / I don’t wanna grow up

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