O filme dessa cidade sou eu. O filme dessa cidade é meu.
30.03.07
por Daniel Oliveira
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Ó paà ó
(Brasil, 2007)
Dir.: Monique Gardenberg
Elenco: Lázaro Ramos, Wagner Moura, Dira Paes, Emmanuele Araújo, Stênio Garcia, Luciana Souza, Érico Brás
Princípio Ativo: Lázaro Ramos, o homem do tamanho da tela
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“Ó paà ó†gira em torno de um cortiço do Pelourinho cuja sÃndica recalcada fecha o registro de água bem na terça-feira de carnaval. O problema é que a diretora Monique Gardenberg (Benjamim) não consegue fazer você sentir o cheiro daquela situação. A ausência sinestésica é a sÃntese das falhas que tornam um argumento cheio de potencial em um filme mediano com algumas boas cenas e um todo frouxo.
O rebolado do elenco, principalmente Lázaro Ramos e Emmanuele Araújo, e o trabalho de corpo dos atores – porque “Ó paà ó†é um filme de corpo – transpira algo que é única e exclusivamente brasileiro. Mas é essa paixão que falta à direção apagada e à câmera quase ausente de Gardenberg. Falta a fluidez e a coreografia de Cláudio Assis em “Amarelo mangaâ€, ou mesmo de um Robert Altman.
A transição de uma cena para outra é pouco inspirada e, em alguns casos, brusca – o que deixa uma impressão de esquetes soltos que se esforçam para ser um filme. O final mal resolvido, que se apóia nas músicas de axé para amarrar cenas que não chegam aonde precisavam, contribui bastante para isso. E acrescente ainda uma sexualidade que quer gritar durante todo o filme, mas é sufocada pela assinatura Guel Arraes e Globo Filmes de classificação indicativa.
Com isso, “Ó paà ó†passa por vários lugares interessantes e deixa um gostinho de quero mais em cada um deles. Da crônica social – na história da sempre autêntica Dira Paes - a uma proposta de musical brasileiro – a cena do bar em que eles param o filme e começam a coreografia é constrangedoramente divertida - à comédia regional, o longa atira para muitos lados, com uma mira de ressaca de quarta-feira de cinzas.
No meio dessa “zorra†toda, destaca-se Lázaro Ramos – ator e produtor executivo, que dedica o filme ao Bando de Teatro do Olodum, onde começou a carreira. Quando ele surge na primeira cena, literalmente cantando, dançando e representando, tudo que me veio à mente foi: “Meu Deus, ele é do tamanho da telaâ€. O filme explode como devia quando ele está em cena e dá a vida que falta à câmera. O ator é ajudado por bons coadjuvantes – até um Wagner Moura fazendo o melhor com um personagem caricato e pouco explorado. Mas é no gingado, na pulsação e na música de Lázaro que está o filme não encontrado no resto.
Se a superação e a força da presença do ator estivessem nos outros aspectos do longa, “Ó paà ó†deixaria o retrato turÃstico, e para turistas, e seria um grande filme. TerÃamos outra vez a música que deixa de incomodar para significar. Um pouco mais de ousadia e Gardenberg teria chegado lá.
O elenco e a famosa e tradicional carinha de quem tá gostando demais...
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