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Correndo atrás da piada

07.04.07

por Rodrigo Campanella

As Férias de Mr. Bean

(Bean´s Holiday, Reino Unido, 2007)

Dir.: Steve Bendelack
Elenco: Rowan Atkinson, Max Baldry, Emma de Caunes, Willem Dafoe

Princípio Ativo:
ansiedade

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2 segundos

é o tempo médio entre surgir a possibilidade de uma gag e ela já estar rumo ao fim nessas férias do inglês Bean na França. É uma espécie de criação de piadas abatidas antes de alçarem vôo: como se numa lançadoras de pratos para tiro ao alvo alguém estivesse apontando não para o alto, e sim para a saída da máquina. Isso alcança um humor de

3 segundos

menos que o suficiente para um riso. Woody Allen, no recente “Scoopâ€, conseguia alinhar várias risadas num diálogo repleto de piadas de dois segundos. Mas Allen faz humor falado: sua força é a frase de efeito. Rowan Atkinson, o Mr. Bean, aposta todo seu humor nas situações bola-de-neve criadas pela inocência desse menino crescido demais, ótimo para mostrar a complexidade caipira do nosso mundo ‘adulto’ e padronizado. Quando isso dá certo, é garantia de

15 segundos

daquela leveza no corpo que só uma massagem de humor permite. Mas as piadas desse novo Bean duram só dois segundos porque deslizam sobre os clichês mais batidos, e reduzem Bean a um simplório estado de ‘o mundo me odeia’. Prever cada graça é fácil a ponto de matar o riso. Por isso, não à toa uma das boas gags do filme é que Bean agora consegue estacionar um carro, simplesmente contrariando as expectativas. Mas ainda assim há quem vá encontrar a todo momento nessas “Férias de Mr. Beanâ€, risadas de

2 minutos

independente do texto ou da criatividade longe do primor. Em parte porque Bean, exibido década passada em esquetes para TV no “Fantástico†, virou figura reconhecida e querida aqui. Mas também porque há algo que leva milhares de pessoas a assistirem e se encantarem, semana após semana, com a mesma piada idiotamente repetida pelo porteiro Severino de “Zorra Totalâ€: o carisma. Paulo Silvino/Severino, assim como Atkinson nesse filme, são capazes de muito mais. Mas com esse mínimo é que ganham o riso pela identificação – e eles sabem disso, e conseguem. O que não quer dizer que ali não possa haver a capacidade de fazer rir por

1 Hora

quando a explosão de riso é construída com paciência (como nos melhores quadros de Bean para TV ou nos filmes de Buster Keaton), ou quando a piada resolve correr o risco de ser grande – como no movimento final do próprio filme, numa sessão de cinema em Cannes, quando a exibição na tela acerta em cheio o egocentrismo dos astros, a noção porca de como fazer um filme inteligente, a falta de vida do que se pretende sério demais. Ali, na última curva do caminho, está a graça inesperada.

12 anos, contados.

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